22/01/2016 - 20:00
A cidentes aéreos dificilmente ocorrem por um motivo isolado. Com a queda do Cessna que matou o governador de Pernambuco e então candidato à presidência Eduardo Campos e outras seis pessoas não foi diferente, segundo o relatório do Cenipa. O órgão, ligado à Força Aérea, concluiu que o cansaço do piloto, aliado a condições meteorológicas adversas, levou a aeronave a se espatifar no bairro do Boqueirão, em Santos. O caso, porém, está longe do fim. Uma investigação particular, encomendada pelas viúvas dos pilotos, coloca a Cessna como protagonista da tragédia.
A perícia, que vem sendo conduzida tanto no Brasil como nos Estados Unidos, acusa um suposto erro no projeto do modelo 560 XLS, uma falha capaz de afetar o estabilizador horizontal do avião, levando-o à queda. “Há registro de outros dois acidentes com esse modelo, com as mesmas características. Queremos discutir essas questões com a fabricante e, se estivermos corretos, não descartamos um processo judicial contra a empresa, nos Estados Unidos”, disse à DINHEIRO o advogado Josmeyr Oliveira, que representa as famílias dos pilotos. Em nota, a Cessna informou que trabalha junto às autoridades e que não comenta investigações.
Líder mundial no segmento de aviação particular, com faturamento anual de US$ 4,5 bilhões, a Cessna amarga também o primeiro lugar no ranking de acidentes aéreos, em termos absolutos. Segundo os dados do Bureau of Aircrafts Accidents, entidade com sede na Suíça, foram 1.350 acidentes com modelos Cessna nos últimos 54 anos, uma média de 25 ao ano (a média da Fokker é de 4,2 por ano e da Piper, outra grande concorrente, a média é anual é 12). Os números precisam ser lidos com cautela, já que a quantidade de modelos Cessna em circulação é muito maior que a de modelos rivais. Mas, em um mercado ditado pela segurança, é sempre complicado ter seu nome envolvido em uma grande quantidade de acidentes.
Sob esse ponto de vista, a Cessna – que pertence à Textron, dona também das fabricantes Beechcraft e Hawker – está longe de viver um bom momento no Brasil. Em novembro passado, quatro pessoas, entre elas dois executivos do Bradesco, morreram na queda de um Citation 7. “Nesse setor, as empresas normalmente preferem fazer acordos com as famílias, evitando processos judiciais e a exposição negativa”, diz o advogado Ilyas Akbary, do escritório Baum, Hedlund, Aristei & Goldman, que já atuou em mais de 600 casos envolvendo acidentes aéreos. “Se elas tivessem de pagar todas as indenizações, na íntegra, já teriam quebrado”, resume.