Quando Donato Ramos, diretor de marketing da rede de produtos naturais Mundo Verde, esteve na Expo West – Natural Products, uma das mais importantes feiras do setor de produtos orgânicos dos Estados Unidos, há dois anos, ninguém deu bola para ele. “Falava que era do Brasil e ouvia aqueles comentários de sempre sobre samba e futebol”, lembra Ramos. Há dois meses o executivo foi novamente à feira, em Los Angeles. “Foi completamente diferente”, diz Ramos. “Bastava dizer que era do Brasil e o pessoal me chamava para conversar, fazer reuniões, conhecer a nossa rede.” Com o mercado americano estagnado e a economia da Europa derretendo, países como o Brasil passaram para a linha de frente no mundo dos negócios. 

 

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Lobo, da Fisk: presença em seis países e cautela na escolha do franqueado.

 

Até o fim do ano passado, 91 marcas brasileiras de franquias já tinham operações no Exterior. Elas estão presentes em 51 países, em todos os continentes. Em comparação ao ano de 2000, quando eram apenas 15 marcas, o crescimento foi de mais de 300% em apenas uma década. O país que mais recebe franquias brasileiras é Portugal, segundo a Fundação Dom Cabral (FDC), que incluiu o setor de franquias no seu Ranking das Transnacionais Brasileiras, estudo feito com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em seguida vêm Estados Unidos e Paraguai. Ter presença internacional é uma excelente chancela para as redes de franquias brasileiras. 


Além da oportunidade de expandir o negócio, a marca ganha mais respeito no mercado interno e desperta um maior interesse entre os investidores. Mas fazer sucesso no Exterior não é tarefa simples. “Os maiores desafios são culturais, logísticos e tributários”, afirma Ramos. “O que você faz quando o carregamento de produtos fica três meses parado no porto?” Uma das soluções encontradas pela Mundo Verde para a reposição de mercadorias em suas lojas de Portugal (são duas unidades em funcionamento na cidade do Porto e mais quatro em Lisboa, ainda em fase de avaliação do projeto) foi desenvolver novos fornecedores nas mais variadas partes do mundo. “No começo, 50% dos produtos eram brasileiros e o restante europeu”, diz Ramos. 

 

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Krai, da Container: nove lojas na Europa e mais 12 em negociação.

 

“Hoje, apenas 20% das mercadorias saem do Brasil. Os outros 80% vêm da Europa e da China.” Uma das primeiras redes de franquias a exportar o seu modelo foi a escola de inglês Fisk, que está na lista das empresas mais internacionalizadas da Fundação Dom Cabral. Com mais de mil escolas espalhadas pelo Brasil e mais seis países (Estados Unidos, Japão, Angola, Paraguai, Argentina e Bolívia), a marca espera crescer 20% neste ano, sendo que a expansão internacional representa 5% do total das novas fraquias. O principal polo de crescimento da Fisk no Exterior é a Argentina, onde a rede opera há 25 anos e já conta com 82 escolas, em cidades como a capital Buenos Aires, Mendoza, Córdoba, Palermo, Navarro, Bariloche e Santa Fé. 

 

O próximo país a ter bandeira Fisk é o Chile. “Somos cautelosos, especialmente na escolha dos parceiros, pois não conseguimos acompanhar tão de perto como fazemos no Brasil”, diz Fernando Lobo, diretor de franquias da Fisk. Além disso, é preciso se adaptar às demandas de cada país. No Japão, por exemplo, onde a Fisk tem nove escolas, as aulas são ministradas apenas aos domingos. As escolas ficam fechadas a semana toda e funcionam no único dia de folga dos alunos, quando eles podem estudar em período integral. Os motivos que levam uma franquia a desbravar novas fronteiras são variados. Nos casos da Mundo Verde e da Fisk, por exemplo, a movimentação fez parte do plano estratégico. 

 

Há situações, porém, em que a oportunidade surge de uma forma mais causal. Foi o que aconteceu com a Container, rede de franquias que utiliza contêineres de porto reciclados para instalar bares, restaurantes e lojas, e já conta com três unidades em Barcelona, duas em Madri, uma em Maiorca, uma em Alicante, uma em Zurique, além de uma unidade móvel em Ibiza. “Em outubro de 2011, um empresário espanhol conheceu nossa loja na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e pediu para levá-la para a Espanha”, diz André Krai de Oliveira, presidente da Container. “Naquele momento não tínhamos intenção de exportar a rede.” Com sede em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, a Container conquistou o mercado externo e já contabiliza negociações para a abertura de mais 12 lojas encaminhadas no Exterior.

 

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