A Microsoft apresentou na semana passada, em Redmund, nos EUA, seu novo videogame, o Xbox One. A intenção é posicionar o aparelho, que chega ao varejo no final do ano, como mais um console para jogos que serve também de central multimídia. Isso porque, além de jogar, ele possibilita ao usuário ter acesso a conteúdos de música, vídeo e a interagir com programas de tevê ao vivo. Assim, a companhia americana mostra suas novas armas para vencer a dura batalha contra competidores no setor de games como o PlayStation 4, da Sony, que também deve ter as vendas iniciadas no final de 2013, e o Wii U, da Nintendo, lançado em 2012. 

 

93.jpg

 

Essa disputa é travada em escala global, mas uma região específica começa a brilhar aos olhos das empresas so setor: o Brasil, o mercado que registra os maiores índices de expansão da indústria mundial de games. O interesse pelo País levou a Microsoft e a Sony a se comprometer a trazer suas novas máquinas o mais rapidamente possível para cá. O esforço se justifica pelo fato de o mercado nacional movimentar mais de R$ 6 bilhões em venda de consoles e games. Diante desse cenário, um número crescente de competidores internacionais do ramo estão desembarcando no Brasil. É o caso da desenvolvedora alemã de games para a internet Innogames, que montou sua operação local neste ano. 

 

94.jpg

Mais que jogos: o chefe de entretenimento da Microsoft, Don Mattrick, apresentou na semana passada

o Xbox one, videogame que pretende ser o centro multimídia da sala de estar

 

Além dela, a gigante do comércio eletrônico Amazon estuda se inicia a venda de games pela internet para o Brasil. A batalha pelo mercado nacional motivou a Sony a anunciar neste mês a fabricação local de seu PlayStation 3. A produção do console na Zona Franca de Manaus resultou na redução de cerca de 30% do preço final do produto. Com esse movimento, a Sony tenta recuperar o terreno perdido para a Microsoft, que já produz internamente seu Xbox 360 desde 2011. “Fizemos uma boa disputa de mercado mesmo com um consolecujo preço é o mais elevado do mundo”, disse à DINHEIRO Jack Trenton, CEO da Sony Entertainment of America. “Com o corte no preço, registraremos um crescimento considerável.” 

 

Ele também prometeu que o Brasil será um dos primeiros países a receber o PlayStation 4, que poderá, mais adiante, também ter fabricação brasileira. Mesmo reforçando as estratégias na maior economia da América Latina, a Sony terá de suar a camisa para tirar o título de maior vendedora de videogames do Brasil da Microsoft, que hoje lidera o setor de consoles com uma participação de 65% nas vendas de seu Xbox 360. “O início da fabricação local foi crucial para nossos resultados”, afirma Valéria Molina, diretora de Xbox da Microsoft Brasil. É por essa razão que o Xbox One, se não for lançado simultaneamente com os EUA, pelo menos chegará ao País em datas muito próximas às do mercado americano, diz Valéria. 

 

95.jpg

Em busca do tempo perdido: após perder liderança no brasil, Jack Trenton,

da Sony, anunciou a fabricação local do Playstation 3

 

“A razão é que o Brasil está se tornando peça-chave para a Microsoft nesse setor.” O interesse dessas empresas não se dá à toa. A consultoria holandesa Newzoo, especializada em mercado de games, informou que, só em jogos, o mercado brasileiro faturou R$ 5,3 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento de 32%, em relação a 2011. Entre os 13 países analisados, o Brasil é o que mais cresceu. Os dados consolidam vendas de jogos de console, dispositivos móveis, internet e redes sociais. No caso dos consoles, o aumento também é consistente. Esse mercado teveuma expansão de 43%, faturando R$ 1 bilhão em 2012, segundo a consultora alemã GFK. A produção local por parte de dois dos maiores fabricantes mundiais de videogames deixou os desenvolvedores de jogos entusiasmados, principalmente aqueles que já montaram operação no País. 

 

“Com a chegada da Sony e da Microsoft, a comercialização de consoles no Brasil deve crescer ainda mais”, afirma Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft na América Latina. “Isso vai nos permitir vender mais games”, diz. Sem revelar números, Chaverout afirma que o Brasil é uma das peças mais importantes na operação global da companhia, que faturou US$ 1,6 bilhão, em 2012. A empresa hoje colhe os frutos de ter investido no País no final dos anos 1990, quando nenhum grande produtor estava por aqui. Atualmente, além da Ubisoft, já mantêm escritórios no Brasil algumas das principais marcas de jogos, como a japonesa Konami e a americana Activision. Neste ano, a também japonesa Capcom abriu escritório no Brasil, em São Paulo. 

 

96.jpg

 

 

Todas elas adaptaram jogos para o consumidor brasileiro, com legendas e dublagens em português. Não são apenas os produtores de games para consoles que apostam no Brasil. A alemã Innogames, especializada em jogos para internet, montou um escritório na região do ABC paulista neste ano – além de Hamburgo, a empresa também está presente em Seul, na Coreia do Sul. “O potencial do Brasil é enorme, principalmente para o tipo de jogo que oferecemos”, diz Marcus Imaizumi, diretor-geral no Brasil da Innogames. A competição tem tudo para ser reforçada em breve, pois a Amazon estuda ingressar nesse setor no País. Até o momento, a versão brasileira do site da empresa, que entrou no ar no final de 2012, vende somente Kindle e livros digitais. Para trazer seu tablet Kindle Fire para o mercado nacional, a companhia precisará oferecer uma gama maior de serviços, como os games. 

 

Um sinal de que isso pode estar a caminho é a contratação pela matriz da Amazon de um escritório paulistano de advocacia para preparar um relatório sobre a situação tributária brasileira de jogos por download. Em seu relatório, os advogados informaram que a empresa enfrentaria uma situação instável nessa área, pois a legislação brasileira não tem regras nem jurisdição específicas para esse tipo de transação. Procurada, a Amazon não comentou o assunto. O fato de o gigante do varejo eletrônico global também manifestar seu interesse em participar desse mercado, ainda que à mercê de uma tributação salgada (a incidência de impostos chega a 60% sobre o preço de venda), é mais um indício de que o Brasil é a nova fase da indústria mundial de games.

 

97.jpg