Para a empresa de transportes ferroviários ALL, o ano de 2013 começou com grande expectativa. A previsão de mais uma safra recorde na agricultura brasileira gerava bastante otimismo para os executivos e acionistas da companhia, que faturou R$ 3,6 bilhões no ano passado. Ao fim do terceiro trimestre, no entanto, o sentimento era de decepção. “É um ano para se esquecer em termos de portos e terminais”, afirmou Rodrigo Campos, diretor de finanças e de relações com investidores, durante conferência com analistas de mercado, realizada na quarta-feira 6. O desabafo do executivo tem uma explicação. 

 

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No tribunal: acordo entre ALL e Cosan deveria durar 15 anos e previa aumento de volume 

 

A ALL viu seu lucro cair 92% de janeiro a setembro deste ano, em relação a igual período de 2012. Como se não bastasse, ela não conseguiu se beneficiar do aumento de 26% da safra agrícola no Centro-Oeste e no Sul do País, regiões onde atua. Problemas de infraestrutura nos terminais portuários atrapalharam suas operações. Despenho financeiro insatisfatório à parte, o que tem tirado mesmo o sono de Santoro é o contencioso com a Cosan. A gigante do setor sucroalcooleiro acusa a companhia de Santoro de não cumprimento de um contrato firmado em 2008. O negócio deu origem à Rumo Logística, companhia responsável pelo gerenciamento do transporte de açúcar das usinas no interior de São Paulo ao porto de Santos. 

 

No papel estavam previstos investimentos de R$ 1,2 bilhão para a melhoria da infraestrutura logística na malha e no porto, bancados pelas duas empresas. A Cosan alega que a ALL não tem transportado os volumes de açúcar firmados em contrato. A empresa ferroviária, por sua vez, afirma que o cumprimento integral do acordo tem sido prejudicado, entre outros motivos, por conta da falta de capacidade nos terminais portuários da Rumo. “Essas restrições decorrem de fatores alheios à vontade da ALL, como é o caso da não obtenção do licenciamento ambiental em trechos ferroviários, cuja duplicação é essencial ao atendimento da Rumo”, informou, em comunicado, a companhia de logística. 

 

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Tanque cheio: Segundo Leonardo Dallegrave, da ALL, a companhia faturou

R$ 479,8 milhões com o transporte de combustíveis de janeiro a setembro deste ano

 

A disputa foi parar nos tribunais e corre em segredo de Justiça. “Vamos cobrar a multa referente ao volume não transportado nos últimos 90 dias, que soma R$ 15,5 milhões”, disse Marcos Lutz, presidente da Cosan, numa teleconferência com analistas de mercado. “Permanecemos comprometidos com os investimentos no modal ferroviário, mas agora vamos ter de avaliar como eles serão feitos.” Essa postura da ALL, por sinal, é vista no mercado com receio. “Ela arranha sua imagem junto aos clientes”, afirma um executivo de primeiro escalão do setor ferroviário. “O pensamento na ALL sempre foi imediatista, financeiro. No setor ferroviário não pode ser assim. Os contratos e os parceiros são de longo prazo.” 

 

O acordo com a Cosan tem duração de 15 anos, com a previsão de aumentos sucessivos de volume de açúcar ano a ano. Campos afirmou que a operação nos terminais da Cosan em Santos está pior do que em 2012. Isso dificulta o cumprimento do contrato. “Vamos calibrando o carregamento de acordo com o escoamento”, disse. Segundo ele, há de 90 a 100 vagões parados no porto diariamente, esperando o descarregamento. Lutz, por sua vez, diz que aguarda o resultado das discussões, mas mantém previsões otimistas para a Rumo. Para melhorar seu resultado, a ALL aposta na diversificação de seus serviços para outras áreas. 

 

No transporte de combustível, por exemplo, pegou carona na proposta do governo federal de aumentar de 5% para 7% o percentual de biodiesel no óleo diesel. A empresa já firmou contratos com três grandes usinas do Rio Grande do Sul. Em outubro, foram transportados oito mil metros cúbicos do combustível. Essa área de negócios da companhia, que inclui o transporte de óleo vegetal e material de construção, além de combustíveis, faturou R$ 479,8 milhões de janeiro a setembro. A receita total da transportadora foi de R$ 2,8 bilhões no período. O volume de diesel transportado dobrará até dezembro. “São contratos bimestrais, mas temos condições de aumentar nossa oferta”, afirma Leonardo Dallegrave, gerente da unidade de líquidos da ALL. 

 

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