23/12/2015 - 18:30
O circuito Bravus é a corrida mais desafiadora do calendário brasileiro. Ela mistura obstáculos na lama, no gelo, com fogo, choque, muros, cordas entre outros exercícios de força e velocidade. Correr é apenas uma parte de tantas barreiras que precisam ser superadas. O mesmo panorama estará presente na bolsa de valores em 2016. Aquela pista predominantemente plana, com algumas subidas e descidas, que o investidor se acostumou a encontrar, ficou para trás. Quem pretende colocar parte dos investimentos em ações terá de se preparar para encontrar um terreno acidentado, que exigirá paciência, determinação e coragem.
“O cenário turbulento no Brasil, principalmente, e no mundo é um dos mais difíceis para a renda variável”, diz Rodrigo Menon, sócio da consultoria de investimentos Beta Independent. “A volatilidade estará muito alta e o nível de alocação do investidor deve ser pequeno para todas as categorias de risco, do conservador ao agressivo.” A indicação é o investidor “correr” lado a lado com a crise, sem desafiá-la a um sprint ou a pular mais alto sobre uma barreira. Isso significa ter cautela nas escolhas das ações.
Entre as opções indicadas, o setor financeiro e o de papel e celulose chamam a atenção (veja recomendações na pág. 54). Mesmo com o aumento da inadimplência, o novo ministro da Fazenda e o rebaixamento da nota soberana do Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco seguem como indicações, assim como BB Seguridade e Cielo (a sexta e a sétima mais lucrativas de 2015, respectivamente). As empresas Fibria, Suzano e Klabin, que estão entre os cinco mais rentáveis de 2015, continuam na lista de boas opções por estarem ligadas ao dólar, ou seja, protegidas das variações cambiais.
“Há outras poucas exceções, como a Ambev e a Raia Drogasil, que está em um setor que não sofre com a recessão”, afirma Raymundo Magliano Neto, presidente da Magliano Corretora de Valores. O Ibovespa, o principal indicador da bolsa brasileira e parâmetro para quem investe em ações, está perto dos 44 mil pontos. Esse, porém, ainda não é um patamar convidativo para o investimento. Os especialistas avaliam que, somente abaixo dos 40 mil pontos, haverá oportunidades de compra de ações.
É preciso ter atenção pois o Ibovespa ainda não está emparelhado ao dólar próximo a R$ 4 e a taxa de juros de 14,25% ao ano. “É preciso procurar papéis específicos, porque realmente o curto prazo é cruel contra a bolsa”, afirma Alexandre Póvoa, presidente da gestora Canepa Asset Management. “O Brasil não está numa situação de ruptura, que irá quebrar amanhã, mas o filme ainda é ruim.” Petrobras e Vale, as duas empresas símbolo da BM&FBovespa, deixaram de ser o principal atrativo para o investidor.
O fim da era de ouro das commodities rebaixou as companhias entre os ativos obrigatórios numa carteira de investimento. Embora as ações Petrobras PN e Vale PNA estejam entre as três mais negociadas da bolsa, elas foram as que mais perderam liquidez nos últimos doze meses. Mesmo assim, os consultores continuam sendo pressionados a mostrar qual é o preço mínimo ideal para a compra desses papéis. Para a mineradora, a redução do apetite chinês por minério de ferro e a queda nos preços nos mercados internacionais mostram as poucas perspectivas de valorização.
A petroleira precisa enfrentar uma série de problemas. O endividamento atrelado ao dólar e o barril do petróleo negociado abaixo de US$ 40 são os desafios de curto prazo. O sucesso do plano de desinvestimento, que está em curso, ajudará a reduzir essa pressão sobre o caixa da Petrobras. Essa é uma nova corrida, com um novo circuito para o investidor. Antes de arriscar, é preciso se preparar bem para vencer.
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