Quando comprou a rede de ensino de idiomas Cel-Lep, em setembro de 2012, uma das primeiras exigências do fundo de private equity americano H.I.G Capital foi de que a empresa contratasse um seguro de responsabilidade civil para seus diretores. Chamado de Directors and Officers Liability Insurance (D&O), ou seguro de responsabilidade civil para executivos, essa modalidade protege o patrimônio de diretores e conselheiros da empresa em caso de perdas por má gestão. “Contratamos uma apólice de R$ 10 milhões para nossos dez executivos”, diz Alexandre Velilla, diretor financeiro da rede, que faturou R$ 80 milhões em 2014.

De acordo com Velilla, o H.I.G já adotava essa prática fora do Brasil e não abriu mão de manter os executivos da empresa protegidos, em um País cujo ambiente de negócios é considerado cada vez mais arriscado pelos estrangeiros. O que surgiu por aqui como uma demanda de empresas estrangeiras vem ganhando popularidade entre as brasileiras. Em 2014, foram emitidos R$ 241 milhões em prêmios, o dobro do volume de 2013. Desde 2009, essa modalidade avançou 622%. A prisão de executivos como Ricardo Pessoa, CEO da UTC, encarcerado no âmbito da Operação Lava Jato, tem sido mais eficaz nas vendas do que um exército de corretores.

“Casos envolvendo executivos na mídia são impactantes”, diz Eduardo Marques, diretor-executivo da corretora americana Marsh. Os D&O tornaram-se populares por aqui a partir da crise financeira que começou em 2008. No ano seguinte, ao fazer uma barbeiragem com derivativos cambiais e perder R$ 2,4 bilhões, a Sadia foi forçada a unir-se à arquirrival Perdigão, formando a BRF. Incomodados, os acionistas processaram Adriano Ferreira, ex-diretor financeiro da Sadia, considerado responsável pelas perdas. Ferreira seria absolvido em 2010, após um processo complicado e caro.

“Um D&O ajuda a cobrir esses gastos”, diz Marques. O exemplo de Ferreira fez a venda de apólices aumentar 39% em 2009 frente ao ano anterior. Nos anos seguintes, outros exemplos chamariam a atenção dos executivos para sua responsabilidade corporativa, e todos eles aumentariam muito a venda dessas apólices. Depois da Lava Jato, o caso mais rumoroso foi o do empresário Eike Batista, que está sendo processado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por ter negociado ações da petrolífera OGX com base em informação privilegiada, o chamado “insider trading”.

As seguradoras, especialmente as estrangeiras, vêm apostando nesse mercado. A maior nessa categoria aqui é a suíça Zurich, que emitiu R$ 55 milhões em prêmios no ano passado, seguida pelo Itaú, com R$ 43 milhões e pela americana AIG, com R$ 36 milhões. “Antes do episódio da Sadia, as empresas nacionais não se preocupavam com eventuais prejuízos que seus executivos poderiam ter, mas isso mudou”, diz Marques. As perspectivas são tão boas que, ao contrário de diversos outros setores da economia, as seguradoras esperam um avanço dos negócios em 2015. Eduardo Viegas, diretor de Linhas Especiais da Chubb, diz que a meta é crescer acima de 10% neste ano.

“As vendas de seguros de responsabilidade civil e seguros financeiros, adequados aos casos de fusões e aquisições que não dão certo, vêm crescendo nos últimos anos.” Para ajudar nesse crescimento, as seguradoras contam também com a entrada de novos clientes nos D&O. Além de executivos de grandes companhias, o seguro vem sendo procurado por profissionais liberais como médicos, engenheiros e advogados. “A demanda de profissionais autônomos preocupados em proteger-se aumentou significativamente”, diz Viegas. Pedro Purm, presidente da americana Argo Seguros, está ainda mais animado.

Sua expectativa é que os prêmios gerais cheguem a R$ 176 milhões neste ano, um avanço de 25% frente aos R$ 141 milhões no ano passado., impulsionado pelo D&O. “Temos vários casos de seguros que protegem os executivos das perdas com eventuais danos ou prejuízos que ocorram em sua gestão”, diz ele. “Quem não tem esse seguro vai comprar e, quem já tem, vai querer aumentar a apólice”, diz Purm. É o caso da própria Cel-Lep que estuda duplicar o valor da cobertura. “Vamos investir R$ 5 milhões neste ano e ampliar nossa rede de escolas, por isso, torna-se necessário aumentar a proteção”, diz Vilella.