01/05/2014 - 19:00
Em uma cadeira, a estonteante supermodelo Bar Refaeli, ex-namorada do ator Leonardo DiCaprio. Ao lado, o ator Jesse Heiman, um típico nerd que fez papel de coadjuvante em alguns filmes de pouca expressão em Hollywood. Essa dupla improvável protagonizou um ardente beijo, visto por mais de 100 milhões de espectadores que assistiam a um comercial exibido no intervalo do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, no ano passado. Muita gente da poltrona ficou chocada com a cena, com certa razão. Menos quem acompanha as campanhas de marketing da empresa americana de hospedagem e registro de sites GoDaddy (“Vai, Papai”, em tradução literal para português).
Para esse grupo, a cena tórrida não passou de mais um episódio de uma extensa série de campanhas polêmicas, geralmente envolvendo mulheres com generosos decotes. Outra figura comum é a do piloto de automobilismo Danica Patrick, que atualmente corre na Nascar com o carro GoDaddy nº 10. Esse estilo polêmico e irreverente começa a se expandir para outros países, incluindo o Brasil. A companhia baseada no Arizona promete mexer com o mercado local, estimado em R$ 600 milhões no ano passado. Afinal, trata-se da chegada da maior companhia de registro de domínios e hospedagem de sites do mundo, com faturamento de US$ 1,4 bilhão. Atualmente, ela administra 57 milhões de endereços na internet e conta com 12 milhões de clientes globalmente.
Em termos de marketing, no entanto, a GoDaddy até que desembarcou comportadinha. A primeira peça publicitária exibida em canais pagos mostra um inofensivo cachorro pug falante. Há também uma escultural morena, mas, estranhamente para um peça de marketing feita pela GoDaddy, o destaque é para o bicho. O que preocupa mesmo os concorrentes é a agressiva política de preços exibida em seu site em português. Por R$ 10 é possível obter 100 GB. Com mais R$ 2, não há limite de espaço. “A GoDaddy foca no micro e pequeno, enquanto as principais concorrentes no Brasil miram na nuvem utilizada por empresas de tecnologia e grandes corporações”, afirma Daniel Domeneghetti, CEO da consultoria E-Consulting.
A GoDaddy não quis conceder entrevista. Quem vai comandar a operação brasileira da companhia é o porto-alegrense Cristiano Mendes, executivo com passagens por empresas como RIM e Dell e pela concorrente direta King Host, onde foi gerente de marketing. “Ele aprende rápido, em seis meses sabia mais de hospedagem do que muita gente que trabalhava há anos conosco”, afirma Juliano Primavesi, CEO da King Host, antigo chefe de Mendes. “A GoDaddy pode criar mais mercado para todo mundo, o País ainda tem potencial.” O GoDaddy entra também em rota de colisão com a Locaweb e a UOL Host, as duas maiores empresas de hospedagem e registro de domínios do Brasil.
“Um cliente não muda de servidor por R$ 5”, afirma Ricardo Dutra, diretor da UOL Host. “Temos uma marca tradicional e um suporte atento às necessidades locais.” A Locaweb diz também não se preocupar com a chegada da americana. “Desde a fundação da Locaweb enfrentamos concorrência internacional”, afirma Luis Carlos dos Anjos, gerente de marketing da empresa. “Eles conseguem essa política de preços agressiva porque a estrutura deles está fora do País, mas a GoDaddy desconhece as particularidades do Brasil.” A Locaweb tem como sócio um dos donos da GoDaddy. Trata-se do fundo americano de private equity Silver Lake, que chegou à América Latina em 2010, com a compra de 20% de participação na empresa paulista.
A Silver Lake afirma ter cerca de US$ 23 bilhões alocados em gigantes como Skype, Alibaba e Dell. Em 2011, um consórcio liderado pela Silver Lake e pelo fundo KKR adquiriu o controle da GoDaddy por US$ 2,25 bilhões. Uma das primeiras medidas decorrentes da troca de dono foi o afastamento do polêmico fundador, CEO e, às vezes, garoto-propaganda da GoDaddy, Robert Parsons. Conhecido por sua personalidade expansiva e pela tagarelice, Parsons postou, em 2011, um vídeo à moda Discovery Channel, em que participava de um safári no Zimbábue e matava um elefante a tiros. O vídeo despertou a fúria de ONGs de direitos dos animais. “Vou à África há seis anos e estou consciente dos problemas com os elefantes e do que eles causam à comunidade local”, disse ele, para se defender.
Com Parsons deslocado para a presidência do conselho e tendo promovido o mais comedido executivo Blake Irving, ex-Yahoo! e ex-Microsoft, ao posto de CEO, o caminho ficou livre para uma nova tentativa de IPO – a primeira foi frustrada em 2006, pois Parsons não gostou do período de silêncio. Outra mudança que ocorreu com os novos controladores envolve a expansão global da empresa. Irving convocou em março de 2013 seu ex-companheiro de Yahoo! James Carroll para comandar o avanço da empresa em novos mercados. No início deste ano, o foco foi a América Latina, com a abertura de operações no México, Argentina, Colômbia, Venezuela, Chile e Peru, além do Brasil. Na semana passada, a GoDaddy estreou em 21 novos mercados da Europa. Definitivamente, o papai chegou e está com fome.