José Antônio Martins, conselheiro da Marcopolo, que produz ônibus e carrocerias, é enfático: “Antônio Palocci será peça-chave para que Dilma Rousseff, caso eleita, represente a continuidade do modelo de desenvolvimento do governo Lula.” Flávio Rocha, presidente da rede de varejo Riachuelo, segue na mesma toada: “Um papel relevante para Palocci na área econômica seria uma ótima sinalização para o mercado financeiro e também para as empresas de todos os setores da economia.” 

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O bem-amado: Palocci e José Martins, da Marcopolo, em São Paulo

Maurílio Biagi Filho, CEO do grupo Maubisa, um dos maiores do País no açúcar e no álcool, confirma: “Palocci ganhou a confiança de empresários de todos os segmentos.” 

 

Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, idem: “Ele é um homem equilibrado e de confiança. Nosso diálogo com o governo começou com ele.” Por onde circula, Palocci desfruta da admiração incontida de boa parte do PIB. Seu prestígio lhe rende elogios fartos e não há a menor dúvida de que ele é amado por nove em cada dez empresários – ou dez em cada nove. Os elogios variam entre a “referência de bom-senso no PT”, o “esteio” da economia pujante ou o “fiador da estabilidade”.

 

Num momento em que os empresários parecem mais preocupados com a formação do futuro governo do que com a própria eleição, que no cenário atual caminha para uma definição no primeiro turno, todos os olhos se voltam para o ex-ministro Palocci. Mas o excesso de badalação pode acabar lhe trazendo mais prejuízos do que benefícios. “Vai acabar despertando ciúmes e o fogo amigo do PT”, avalia o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. 

 

Hoje, muitos empresários imaginam apenas dois cargos possíveis para Palocci: a volta à Fazenda, que significaria o comando sobre a área econômica, ou a Casa Civil, que o colocaria na posição de “capitão do time”, coordenando as diversas ações de governo. 

 

Dias atrás, em São Paulo, o ex-ministro foi o homenageado num jantar promovido por Flávio Rocha. Diante de uma plateia de duas dezenas de empresários do varejo, da indústria e de bancos, e com nomes como Benjamin Steinbruch, da CSN, e José Olympio Pereira, do Credit Suisse, ele respondeu a dúvidas sobre como Dilma Rousseff se comportaria na Presidência. “Ela não é gastadora. É uma eficaz gestora de investimentos”, disse Palocci, exaltando as qualidades de uma candidata com quem, no governo, já teve divergências exatamente sobre política fiscal. 

 

Em 2005, Dilma chegou a classificar como “rudimentar” a política econômica de Palocci, que era ancorada, sobretudo, no controle estrito dos gastos públicos. Depois disso, muita coisa mudou. Já fora do governo, o ex-ministro aproximou-se de Dilma quando ficou claro que ela seria a candidata do PT – curiosamente, na vaga que hoje pertenceria a Palocci, caso ele não tivesse sido abatido pelo escândalo do caseiro Francenildo Costa. 

 

Pragmáticos, os dois têm demonstrado uma ligação umbilical que é conveniente para ambos. No comitê de campanha em Brasília, a sala de Palocci fica ao lado da de Dilma, o que, na liturgia do poder, sinaliza que ele pode vir a ocupar um papel central no futuro governo. 

 

Essa expectativa, por sua vez, contribui para que o PT arrecade, com folga, os recursos necessários para a campanha. Informalmente, é Palocci quem faz a interlocução com os empresários e, até o início de setembro, o PT já havia arrecadado R$ 39,5 milhões, um quarto a mais do que o adversário José Serra.

 

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O dinheiro faz muito bem à campanha, evidentemente, mas não garante Palocci na Fazenda nem na chefia da Casa Civil – especula-se que ele possa assumir a Saúde. “Dilma já terá que demonstrar independência diante do presidente Lula e talvez tenha que fazer o mesmo em relação a Palocci”, analisa o cientista político Rafael Cortês, da Tendências Consultoria. 

 

O fato é que nenhum presidente gosta de superministros, que pareçam, aos olhos do público, mais fortes do que o próprio chefe de governo. A história recente registra vários exemplos. Logo que assumiu a Presidência, em 1974, o general Ernesto Geisel tratou de descartar o ministro Delfim Netto, que havia sido o mago do milagre e grande czar da economia no governo anterior. 

 

Delfim foi exilado na embaixada do Brasil em Paris, onde cessaram os rumores de que ele poderia ser o primeiro presidente civil do regime instalado em 1964 – uma ideia que tinha apoio de parte do empresariado. 

 

Mais recentemente, no governo de Itamar Franco, foi tensa sua relação com o então ministro Fernando Henrique Cardoso, desde que a opinião pública passou a enxergá-lo como um homem mais forte do que o presidente. E o Plano Real, até hoje, é creditado a FHC – quase nunca a Itamar.

 

A volta de Palocci ao comando da economia também enfrentaria alguns outros obstáculos. O primeiro, a disposição do atual ministro, Guido Mantega, de permanecer no cargo. O segundo, a resistência que Palocci enfrenta por parte do ex-ministro José Dirceu, que é o principal líder do PT. 

 

Na semana passada, em Salvador, Dirceu declarou que a eleição de Dilma seria mais importante do que foi a de Lula. “Representa a vitória do nosso projeto”, disse ele. Estimativas que vêm sendo feitas pelos institutos de pesquisa também sugerem que o PT poderá ter a maior bancada do Congresso, à frente até do PMDB, o que reforçaria o poder de barganha de Dirceu. 

 

Palocci, no entanto, também conta com pontos a seu favor. Duas figuras próximas a Dilma – o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e a atual ministra da Casa Civil, Erenice Guerra – foram alvejadas por escândalos recentes e é improvável que qualquer um dos dois assuma um cargo de coordenação no próximo governo. Dos candidatos à Casa Civil, Palocci é o que conta com mais simpatia do presidente Lula. Mas ele não estará mais à frente do governo. “O presidencialismo brasileiro é tão forte que não permite a ascensão de superministros”, avalia o cientista político Antonio Lavareda. “A caneta será do sucessor de Lula.”