09/01/2013 - 21:00
Quem quiser um lugar ao sol no mercado brasileiro de veículos terá de necessariamente construir uma fábrica no País. Essa é a constatação que as principais empresas sem uma unidade industrial local aprenderam depois de uma série de medidas para incentivar quem investe no mercado brasileiro. A principal delas é o programa Inovar-Auto. Com ele, o governo federal concederá crédito sobre o recolhimento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para quem investir em pesquisa e inovação. Essa estratégia, ao que tudo indica, vem surtindo efeito.
Potência local: Fritsches, da BMW, acredita que o segmento de luxo dobrará em quatro anos
De acordo com a Anfavea, associação das montadoras do setor automotivo, a estimativa é de que as companhias deverão investir aproximadamente R$ 60 bilhões até 2015 para se enquadrar nas regras do programa. Nos últimos três anos, diversas marcas anunciaram a construção de fábricas por aqui. Até 2016, pelo menos 11 novas unidades industriais deverão ser inauguradas e sete novos fabricantes vão passar a produzir localmente. Uma delas é a alemã BMW, que anunciou uma fábrica em Araquari (SC), que custará R$ 550 milhões e terá capacidade anual de 30 mil veículos. A meta é inaugurá-la até o final de 2014.
Com a inscrição no Inovar-Auto, durante o período de construção da unidade industrial, a BMW garantirá uma cota de importação de 15 mil carros anualmente (metade da produção da nova planta) sem a sobretaxa cobrada dos importados. A meta da montadora, neste ano, é retomar o patamar de vendas de 2011, quando foram comercializados 12 mil carros. “O Brasil é uma das maiores apostas da BMW mundialmente”, afirma Martin Fritsches, diretor de vendas da BMW do Brasil. “O mercado de luxo poderá dobrar em quatro anos e a produção local nos ajudará a acompanhar essa demanda.” O segmento de luxo, no entanto, não é o único que se apresenta como uma ilha de prosperidade no longo prazo.
Aceleração: Belini, da Fiat, investe para aumentar a produção anual dos atuais 800 mil carros,
para 1,15 milhão, até 2014
Hoje, o País é o quarto maior vendedor de veículos do mundo com 3,8 milhões de unidades em 2012. Mas, segundo os analistas, tem potencial para ser o terceiro. “As perspectivas são excelentes, com as projeções de um mercado de seis milhões de carros em 2020”, afirma Cledorvino Belini, presidente do grupo Fiat/Chrysler para a América Latina. Para manter a liderança de mercado, com uma participação acima dos atuais 23%, a montadora italiana investe R$ 8,8 bilhões para aumentar sua capacidade de produção de 800 mil veículos por ano para 1,15 milhão, até 2014.
Um dos principais alvos desse aporte é uma nova fábrica em Goiana, na região metropolitana do Recife, onde deverão ser produzidos 200 mil carros. O mais recente anúncio da Fiat foi uma fábrica de motores anexa à de automóveis no município pernambucano. A Fiat terá de brigar não só com as marcas de luxo, como também com os fabricantes da China, que apostam em modelos baratos e equipados para conquistar o consumidor brasileiro. Uma delas é a Chery, que está investindo R$ 820 milhões para construir sua primeira unidade industrial fora da China, em Jacareí, no interior de São Paulo, para brigar em pé de igualdade com as empresas já instaladas no País.
A aposta leva em conta um contingente de novos compradores, formado essencialmente pela chamada nova classe C, que é o público-alvo da Chery. Assim como as outras importadoras, a montadora chinesa teve um desempenho abaixo do esperado em 2012 com queda de 30%. Para este ano, a meta é recuperar o terreno perdido, crescendo 133% com a venda de 35 mil unidades. “Com a conclusão das obras da fábrica, o mercado estará muito mais favorável aos produtos da empresa, devido à confiança em um carro com grande parte de suas peças do próprio País”, afirma Luís Curi, vice-presidente comercial da Chery Brasil. Para isso, Curi terá uma verba de marketing de R$ 60 milhões para este ano, valor 200% maior do que a de 2012.