O empresário Rubens Ometto, presidente do conselho da Cosan, a maior produtora de etanol do mundo, é um fã confesso de novelas. Nem sua atribulada agenda o impede de acompanhar os capítulos de suas tramas favoritas. Suas empregadas domésticas são encarregadas, entre outros afazeres, de gravar diariamente os episódios dos principais folhetins eletrônicos da tevê brasileira, para deleite do patrão. Mas, apesar de seu gosto por histórias cheias de idas e vindas e enredos complicados, no mundo dos negócios, a atuação de Ometto é completamente oposta. O estilo do empresário é agressivo e direto. Sem medo de assumir riscos e trabalhando sempre com alto nível de endividamento, ou “alavancado”, para utilizar um jargão do setor financeiro, ele apostou no crescimento à base de aquisições. 

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Rubens Ometto, da Cosan: “Diziam que eu ia quebrar, que estava endividado,

mas eles não calculavam quanto meus custos caíam com as sinergias”

 

E foi comprando uma usina de cana atrás da outra que Ometto construiu o maior grupo de energias renováveis do País, com faturamento de R$ 18 bilhões e produção de 2,2 milhões de metros cúbicos de etanol no ano passado. Agora, o empresário quer ir além dos campos canavieiros, base do seu negócio, e acelera na direção de outros mercados. Em fevereiro deste ano, durante o Carnaval, a Cosan se tornou o maior acionista do bloco de controle da ALL Logística, desembolsando na operação R$ 897 milhões. Um mês depois, a companhia adquiriu a Comma, do setor de lubrificantes, por cerca de US$ 100 milhões. Na semana passada, o empresário foi ainda mais longe ao anunciar que estava negociando com o grupo britânico BG a compra dos 60,1% de participação que a empresa detém na Comgás, maior distribuidora de gás do País, por US$ 1,8 bilhão. 

 

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Aporte: a associação com a Shell, em 2010, garantiu à Cosan o pagamento de suas dívidas,

que preocupavam os investidores.

 

A ousada jogada de Ometto, concretizada na quinta-feira 3, coloca a Cosan em um setor novo, que pode ajudá-la a melhorar sua geração de caixa e reduzir os riscos relacionados ao agronegócio. Ao mesmo tempo, o aumento na alavancagem preocupa os investidores, derrubando o preço das ações. A questão agora é saber para onde essa fome de aquisições do empresário vai levar o grupo sucroalcooleiro. A assinatura de um contrato definitivo para a aquisição da Comgás ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores. Segundo a Cosan, a expectativa é concluir o negócio em breve. Assumindo a companhia de gás, o grupo de Ometto passa a controlar uma rede de cinco mil quilômetros de distribuição, que atende mais de um milhão de consumidores em 177 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo e Campinas, além da Baixada Santista e do Vale do Paraíba, no Estado de São Paulo. 

 

A aquisição também marca a entrada da companhia sucroalcooleira em um setor sem nenhuma ligação direta com seu negócio original. Apesar de arriscada, a estratégia pode trazer benefícios para a companhia. “O que a Cosan busca é estabilidade de receita”, afirma Erick Hood, analista da corretora SLW. “Com a Comgás, a empresa diminui a exposição relacionada à safra da cana.” Além disso, a margem de lucro da distribuidora de gás é maior, o que pode representar uma melhora na geração de caixa operacional. No ano passado, a receita da Comgás atingiu R$ 4,1 bilhões, praticamente estável em relação ao ano anterior. O lucro líquido, no entanto, caiu quase 60%, para R$ 236 milhões. Apesar da boa perspectiva, o antigo fantasma do alto endividamento gera apreensões no mercado. 

 

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Logística: a aquisição de 5,7% da ALL transformou o grupo de Ometto no maior investidor do bloco

de controle da empresa de logística.

 

Há dois anos, a Cosan se associou à gigante anglo-holandesa Shell, o que garantiu à empresa um aporte de US$ 1,6 bilhão, resolvendo, ao menos naquele momento, a questão da alavancagem, que assombrava os investidores. Além disso, como a gestão seria compartilhada entre Shell e Ometto, o mercado acreditava que os novos sócios fariam com que o empresário brasileiro tirasse o pé do acelerador. Com as novas aquisições, o problema do endividamento volta à tona. “A compra da Comgás pressiona o caixa da Cosan”, afirma Hood. Em entrevista concedida em 2010, ano em que foi eleito Empreendedor do Ano pela DINHEIRO, Ometto afirmou que a situação financeira do grupo sempre esteve sob controle. 

 

“Diziam que eu ia quebrar, que estava endividado, mas não calculavam quanto meus custos caíam”, afirmou, fazendo referência às sinergias obtidas após as aquisições. O problema é que, no caso da Comgás, esse raciocínio não se aplica, uma vez que a empresa atua em um setor inexplorado pelo grupo. Essas dúvidas em relação ao futuro da empresa acabaram afetando as ações da Cosan. O reforço de sua participação na ALL derrubou em 5,1% o preço dos papéis da Cosan na Bovespa. Quando confirmou a intenção de comprar a Comgás, a empresa viu suas ações cair mais de 4%. Resta saber se, como aconteceu em vezes anteriores, Ometto vai conseguir dar a volta por cima.

 

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