Ernesto Lozardo, mestre em economia pela Universidade Columbia e professor da FGV em São Paulo, reservou a manhã da quarta-feira 17 para conversar com especialistas de três grandes bancos instalados no País. Recém-chegado do Exterior, Lozardo buscava medir a temperatura da economia, pois as análises dos colegas lhe pareciam pessimistas demais. Ao desligar o telefone, ele concluiu que o ambiente não é tão sombrio assim. “Os bancos estão emprestando, as empresas investindo e os consumidores tomando crédito”, diz ele. “As análises andam desconectadas da realidade.” Lozardo não é a única voz dissonante que se contrapõe ao coro dos descontentes. 

 

107.jpg

Obra de edifício em São Paulo: endividamento das famílias está

mais atrelado ao crédito imobiliário do que ao consumo

 

Na quarta-feira, o economista Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central, que voltou ao debate econômico após reportagem da DINHEIRO, publicou um artigo criticando o “pessimismo obsessivo” da mídia e dos analistas. Segundo Lopes, considerando-se o Índice de Atividade do BC, o IBC-BR, e analisando o PIB do segundo trimestre, o País está crescendo a 4% ao ano. Isso não quer dizer que esse será o crescimento de 2013, mas Lopes adverte que as interpretações desprezam sinais de que o País real está melhor que o retratado pelos analistas. Sua visão, de certa forma, espelha a opinião de Roberto Setubal, presidente do Itaú Uni­banco. “Esperamos um crescimento de 2,3% na economia neste ano”, diz Setubal. 

 

“Viemos reduzindo esse prognóstico, mas 2013 será melhor do que o ano passado.” Uma economia está em recessão se encolher por dois trimestres seguidos. Não é o caso do Brasil. O ano de 2012 será lembrado como o do “pibinho” de 0,9%, mas o PIB não retrocedeu, apesar de números pífios como o 0,1% do primeiro trimestre. Dois outros indicadores dão argumentos eloquentes à corrente do otimismo. Um deles é a inflação. No primeiro semestre, a média do IPCA acumulado em 12 meses foi de 6,1%, sinal de que a demanda vai bem, obrigada. O outro é o desemprego, que em maio registrou 5,8%, metade do registrado no início da década passada. Seria ingenuidade supor que a economia brasileira está pronta para retomar uma marcha acelerada. 

 

108.jpg

Roberto Setubal, presidente do Itaú: ”2013 será melhor que o ano passado”

 

A turbulência política e a alta do dólar, nas últimas semanas, causam incerteza. Mesmo assim, empresas que se alarmarem demasiadamente com a recessão podem perder boas oportunidades. A renda cresceu 3,3% nos 12 meses até maio e a inflação já volta ao eixo. A segunda prévia do IGP-M, divulgada na quinta-feira 18, indicou inflação de 0,24% ante 0,74% do mês anterior. Embora alto, o endividamento das famílias mudou de perfil. Cai a aquisição de bens de consumo e avançam os financiamentos para a compra da casa própria. “O crédito imobiliário é uma das promessas para os bancos nos próximos anos”, diz Setubal.