17/10/2012 - 21:00
As boas perspectivas para a economia brasileira, sustentada pelo consumo elevado e pelos investimentos em infraestrutura, têm despertado o apetite dos investidores internacionais. De olho nesse mercado, os administradores de fundos brasileiros estão reforçando as alternativas para esse público. Uma avaliação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) indica que o número de fundos offshore — constituídos no Exterior e com gestão no Brasil — aumentou de 69, em 2007, para 106 em agosto deste ano. O patrimônio administrado também cresceu, nesse período, de R$ 36 bilhões para R$ 57 bilhões, superando as crises no mercado internacional.
Otávio Vieira, da FIDES: ”Já percebemos que há demanda de investidores
na Suíça, no Japão e na Coreia”
“Os investidores internacionais estão olhando o mercado brasileiro como uma alternativa de longo prazo”, diz Carlos Takahashi, presidente da BB DVTM, gestora de recursos do Banco do Brasil. “Há uma forte demanda por ativos ligados à infraestrutura e ao agronegócio.” O interesse tem capturado a atenção das pequenas gestoras independentes. Antes dedicadas apenas aos investidores domésticos, essas casas estão descobrindo que seu conhecimento do mercado brasileiro é algo apreciado por quem quer investir por aqui. “Os grandes investidores estão procurando informações sobre o que está sendo chamado de novo Brasil, ou seja, papéis de longo prazo”, diz Francine Balbina, diretora-executiva da empresa de estruturação de fundos DMS.
Segundo ela, o caminho mais comum dos gestores é oferecer fundos-espelho, que reproduzem lá fora um fundo de sucesso por aqui. A gestora independente carioca Fides Asset Management deve lançar esse tipo de fundo. Um de seus diretores, Otávio Vieira, está em tratativas com dois bancos internacionais para distribuir o fundo no Exterior. “Já percebemos que há demanda de investidores na Suíça, no Japão e na Coreia”, diz Vieira. “A meta inicial é captar US$ 30 milhões.” O cartão de visita da Fides é seu fundo de ações no Brasil, que, nos últimos quatro anos anos, rendeu 116%, enquanto o Índice Bovespa subiu 61%.
Francine Balbina, da DMS: “Investidores estrangeiros buscam
opções de longo prazo”
Os fundos offshore também podem ser usados para divulgar a marca da empresa administradora, explica Dara Chapman, da também carioca Oceana Investimentos. “Até janeiro, vamos lançar um pequeno fundo nas Ilhas Cayman, de forma a divulgar nosso nome e captar volumes maiores”, diz Chapman, para quem o Brasil tem apresentado bons retornos, e não só na bolsa. “Muito dinheiro tem vindo por meio de fundos de private equity.” Com mais capacidade de distribuição do que as gestoras independentes, como a Oceana e a Fides, a subsidiária brasileira do HSBC deve lançar dois fundos offshore no Japão. O primeiro vai investir em ações ligadas ao consumo, como empresas de shopping, telecomunicações, laboratórios e calçados.
“Excluímos papéis ligados às commodities para mitigar o risco”, diz Victor Arakaki, gerente de distribuição de fundos offshore do HSBC. O segundo será com papéis do setor de infraestrutura. Vale lembrar que, em agosto, o governo federal anunciou a concessão de ferrovias e rodovias, no valor de R$ 133 bilhões. Itaú e Crédit Suisse também estão preparando o lançamento de plataformas para vender esses fundos lá fora (procurados, os bancos não comentaram). Vieira, da Fides, avalia que os gestores brasileiros acordaram para uma necessidade de mercado. “Muitos investidores internacionais não podem dedicar muitos recursos a um só país, por isso eles exigem fundos que se dediquem à América Latina como um todo”, diz o gestor.
Não por acaso, a agenda dos administradores de recursos tem incluído viagens cada vez mais frequentes aos países vizinhos. “Oferecer um fundo com participação em ações da Colômbia ou do Peru, por exemplo, pode destravar a vinda de muito dinheiro.” A BB DVTM, que administra US$ 7 bilhões em fundos offshore, olha com atenção para o mercado asiático. Segundo Takahashi, o apetite de investidores da Coreia, do Japão e da Malásia está aguçado por investimentos brasileiros de longo prazo. “Devemos lançar novos produtos, fundos de debêntures”, diz. “Basta haver novos papéis no mercado para criarmos novos fundos.”