28/11/2012 - 21:00
O jogo de dados é um dos mais clássicos dos cassinos e dos filmes. Não são raras as cenas em que os jogadores beijam os dados e os lançam à mesa para ganhar milhões. A comparação com as cotações do dólar é inevitável. “Mercado cambial tem sido um jogo de sorte, e quem apostou no início do ano ganhou dinheiro”, diz Roy Martelanc, professor de finanças da Faculdade de Economia da USP. “Agora o cenário mudou.” Ele lembra que a taxa de câmbio no início do ano estava no patamar de R$ 1,60. “Não era um valor sustentável para a moeda americana, e a alta era inevitável”, diz. Contudo, apesar da correção, engana-se quem acredita que o ano de 2013 terá um câmbio menos volátil. Na visão de Alexandre Chaia, professor do Insper, as variações dependerão do acerto fiscal dos Estados Unidos e de uma estabilização na situação política e econômica da Europa.
As perspectivas para a moeda única europeia são ruins. “Se a Grécia sair do euro e esse exemplo for seguido por outros países, como a Espanha, a moeda ficará muito enfraquecida”, diz. No caso dos Estados Unidos, a saúde do dólar dependerá da eficiência com que o governo implementar as medidas de ajuste fiscal. “Elas podem fazer a economia americana crescer 2%.” Segundo Chaia, uma terceira variável pode mudar o rumo do câmbio: a China. Se houver aumento das exportações brasileiras, principalmente de commodities, a entrada de dólares vai fortalecer o real. Muitas variáveis, muita indefinição. Como fazer para aproveitar essa volatilidade? Segundo Marcelo Pacheco, gerente-executivo de Fundos Multimercado e Offshore da BB DTVM, o segredo para se dar bem nesse negócio é ter agilidade para aproveitar as pequenas variações de curto prazo.
“Todo fundo tem de investir 80% de seu patrimônio em títulos vinculados ao dólar ou ao euro e o restante em caixa, para aproveitar as distorções do mercado.” A rentabilidade de um fundo cambial não depende apenas da variação da moeda perante o real, mas também da oscilação dos juros pagos pelos títulos corrigidos pelo dólar, o chamado cupom cambial. “Se esse cupom sobe, o rendimento do fundo vai cair”, diz Chaia, do Insper, lembrando que em 2002 esse cenário aconteceu. “A cotação estava em quase R$ 4 e o cupom, em 30%. Muitos fundos apresentaram prejuízos”, afirma. Os fundos cambiais podem servir, ainda, como proteção para quem tem dívidas em moedas estrangeiras.
“Funciona como um hedge natural”, diz Pacheco, da BB DTVM. Os fundos também protegem pessoas que tenham viagens programadas ao Exterior. Em todos os casos é preciso estar atento aos prazos e taxas de desligamento dos fundos, para que isso não se torne uma armadilha financeira. Por isso, a recomendação para ganhar dinheiro com um fundo tão volátil é utilizá-lo como uma alternativa de aplicação, que deve receber apenas uma fatia do patrimônio. “Quando a bolsa cai, o câmbio pode oferecer uma proteção interessante”, diz Martelanc. As adversidades são boas para ganhar dinheiro no curto prazo, pois há grandes variações entre as moedas. “Isso, porém, só deve ser feito por especialistas.”