Lançado em 2010, o Uber rapidamente ganhou tração e alcançou o status de startup mais valiosa do mundo. Avaliado em US$ 62,5 bilhões, o polêmico aplicativo americano atraiu consumidores e investidores com um modelo que transforma carros particulares em táxis, sob a bandeira da economia compartilhada. Alguns passos recentes sinalizam, no entanto, que essa estratégia não ficará restrita ao transporte de passageiros nas ruas de 360 cidades no mundo. A empresa está expandindo seus tentáculos e desenhando novos atalhos para acelerar sua expansão.

“Se nós podemos conseguir um carro em cinco minutos, podemos conseguir qualquer coisa”, afirmou Travis Kalanick, CEO e cofundador do Uber, em entrevista recente. Um dos exemplos desse ímpeto por novos mercados aconteceu no fim de janeiro. O Uber fechou uma parceria com a Airbus para testar um serviço de helicópteros sob demanda. O projeto foi realizado durante o Sundance Film Festival, em Park City, no estado americano de Utah. Essa não foi a primeira vez que o aplicativo investiu nessa frente.

Batizado de UberCHOPPER, o serviço já teve ações pontuais em cidades como Nova York, Shangai e Cannes. Na Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro recebeu a iniciativa. Por uma volta nos céus cariocas, o preço por pessoa era de R$ 470 e incluía o trajeto de ida e volta até o heliporto. O leque de serviços do Uber vem crescendo desde 2015 (confira quadro abaixo). O pacote inclui projetos-pilotos de transporte de produtos e documentos. Em julho, por exemplo, a empresa fez uma parceria com a fabricante de celulares chinesa Xiaomi para a entrega de smartphones para consumidores em Cingapura e na Malásia.

Na Turquia, o Uber lançou, em agosto, o UberBOAT, serviço de lanchas. Disponível em Istambul, a iniciativa é uma parceria com a Navette, empresa especializada em transporte marítimo. “Eles estão partindo do modelo que fez sucesso em carros compartilhados para transformar, da mesma forma, outras indústrias”, diz Jeff Kagan, analista independente de tecnologia. Para Vivek Wadhwa, membro eminente da Singularity University e da Stanford University, o investimento do Uber em novas frentes irá além das ações esporádicas.

“Certamente, muitos desses pilotos se tornarão serviços permanentes”, diz Wadhwa. “O Uber quer controlar tudo o que estiver associado a transportes e logística.” Uma pista dessa estratégia é a expansão do UberEATS, aplicativo de entrega de comida. O serviço está em testes desde dezembro em Toronto, no Canadá, com mais de 100 restaurantes. A empresa vai estender a oferta para Nova York, São Francisco, Atlanta e outras sete cidades americanas até março. No modelo, o Uber cobrará taxas dos consumidores e dos estabelecimentos.

“A base instalada de usuários e motoristas vai proporcionar vantagens importantes para o Uber em relação aos rivais desse segmento”, escreveu em relatório Kevin Kopelman, analista da consultoria americana Cowen & Co. O apetite do Uber por novas fontes de receita também está ligado a outro fator: a diversificação de suas fontes de receita para enfrentar o aumento da concorrência em seu segmento de origem, como o serviço chinês Didi Kuaidi. Os aportes para expandir a atuação na China são, aliás, um dos elementos por trás dos gastos elevados da operação.

O site americano The Information teve acesso a dados confidenciais da companhia. No primeiro semestre de 2015, o Uber apurou uma receita líquida de US$ 663 milhões, ante US$ 495 milhões em todo o ano de 2014. O prejuízo líquido no entanto, saltou de US$ 671,4 milhões para US$ 987 milhões na mesma base de comparação. Em contrapartida, o balanço mostrou que o Uber tinha um caixa de US$ 4,15 bilhões no fim de junho. Nesse cenário, Vivek Wadhwa não acredita que a tão esperada oferta pública de ações da empresa aconteça em 2016. “Um IPO iria expor os péssimos resultados financeiros”, diz. “Eles não precisam correr o risco, já que seguem captando bilhões de dólares de investidores que confiam no seu projeto.”