26/04/2013 - 21:00
Quando o adolescente inglês Nick D’Aloisio soube que a Apple lançaria uma loja de aplicativos, em 2008, imaginou que ali havia algo interessante para ele. Foi, então, a uma Apple Store, em Londres, e perguntou ao atendente sobre aspectos técnicos do projeto, como o formato de programação e a codificação de softwares. “É tudo muito novo ainda…”, teria respondido o vendedor, ao mesmo tempo surpreso e curioso com questões tão técnicas vindas de um garoto de apenas 12 anos. Meses mais tarde, D’Aloisio lançou seu primeiro aplicativo para iPhone , o Finger Mill, que simulava uma esteira de corrida para o usuário exercitar os dedos. Com graves problemas de programação, o software não vingou.
Adolescente endinheirado: aos 17 anos, o inglês Nick D’Aloisio
vendeu sua empresa ao Yahoo! por US$ 30 milhões
Três anos mais tarde, mais “maduro”, D’Aloisio criou outro aplicativo, o Trimit, que resumia textos. O programa foi aperfeiçoado até que passasse a especializar-se em notícias. “Trabalhava até as quatro horas da madrugada”, disse D’Aloisio para a Business Week. “Meus pais ficaram preoucupados.” O esforço valeu a pena. A tecnologia chamou a atenção de muitos investidores, incluindo o milionário chinês Li Ka-Shing, o ator Ashton Kutcher e a artista plástica Yoko Ono, viúva do beatle John Lennon. Rebatizado como Summly, o aplicativo de D’Aloisio – agora com 17 anos – foi comprado recentemente pelo Yahoo! por US$ 30 milhões, segundo o The Wall Street Journal. A transação tornou D’Aloisio, ainda menor de idade, um teenager milionário.
É, sem dúvida, um caso extraordinário de precocidade nos negócios. E, assim como ele, outros adolescentes talentosos se beneficiam do fato de terem crescido cercados de bites e bytes desde as fraldas, para se lançarem numa jornada empreendedora. Em grande estilo, diga-se. “É uma geração muito acelerada, que nasceu com um celular no berço”, diz Ylana Miller, especialista em gestão de carreiras do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), do Rio de Janeiro. Os nativos digitais, ou geração Y, vêm chamando a atenção das empresas de tecnologia, que farejam neles uma fonte de inovação e lucro.
Inspiração precoce: Juliette Brindak baseou a identidade de seu site em um desenho feito aos 10 anos
É o caso dos irmãos americanos Catherine e Dave Cook, que transformaram o livro de fotos dos alunos que existe tradicionalmente nas escolas americanas em uma rede social bem-sucedida, a MyYearbook, voltada para adolescentes. “Foi ótimo começar cedo, pois não tínhamos família para criar”, disse Catherine à DINHEIRO. “Se falhássemos, seria uma grande experiência de qualquer forma.” A ideia do projeto surgiu quando, depois de se mudarem de cidade, Catherine e Dave se decepcionaram por não terem informações sobre os novos colegas. Para eliminar esse problema, imaginaram um canal eletrônico que reunisse esse tipo de informação e promovesse a interação com os novos amigos.
Assim, nasceu, em 2005, quando Catherine e Dave tinham respectivamente 15 e 16 anos, o MyYearbook. A empreitada contou com a assessoria de Geoff Cook, irmão mais velho, que, na época, tinha 26 anos e já havia fundado e vendido duas start-ups. Criado na mesma época de sites bem-sucedidos nos EUA, como Friendster, Hi5, Orkut e MySpace, o MyYearbook soube se manter relevante cuidando do seu nicho. Tanto que foi adquirido por US$ 100 milhões, entre dinheiro e ações, em julho de 2011, pela rede social QuéPasa, também focada em adolescentes. A junção das duas empresas formou a MeetMe. Catherine, Dave e Geoff continuam trabalhando na companhia, como vice-presidente de marca, diretor de marketing e CEO, respectivamente.
Empreendedores: os irmãos Dave e Catherine Cook criaram sua empresa
quando tinham, respectivamente, 16 e 15 anos
Assim como no caso do site da família Cook, cuja inspiração veio de uma experiência pessoal, a rede social de brincadeiras e atividades para pré-adolescentes Miss O & Friends também nasceu de uma ideia muito simples. Lançada em 2005, nos EUA, foi criada pela americana Juliette Brindak, aos 16 anos. A ideia da identidade visual do canal veio de desenhos feitos por ela aos 10 anos de idade. Ela havia criado e desenhado um grupo de amigos fictícios – ou “caras legais”, como ela mesma diz. Seis anos depois, o desenho inspirou a identidade visual de Miss O & Friends, uma rede social com brincadeiras e atividades para pré-adolescentes. O site é um fenômeno de audiência: são 25 milhões de visitantes únicos por mês.
Além da venda de publicidade, o site obtém receitas com a comercialização para empresas de serviços de pesquisa sobre as preferências das “tweens”, como as meninas entre 9 e 12 anos são chamadas nos EUA. “Temos esse plano de negócios como guia”, disse Juliette à Business Insider. “Mas o projeto está sempre mudando.” A rapidez para se adaptar, aliás, é uma característica da novíssima geração de empreendedores. “Eles topam qualquer parada, até mesmo abrir mão do controle da empresa”, diz Fernando Meirelles, professor da Escola de Administração de Empresas de da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (EAESP-FGV). Para Meirelles, um negócio como Miss O & Friends tem como grande diferencial o fato de ter sido concebido e ser dirigido por uma adolescente, que conhece as necessidades desse público.
De olho nas novas gerações: o Yahoo!, de Marissa Mayer, aposta
na start-up de um garoto para crescer no mercado móvel
“Um negócio com essas características faz todo o sentido”, afirma. “Trata-se de uma vantagem em relação às grandes empresas lideradas por adultos, que têm dificuldade de estabelecer um diálogo aberto com as novas gerações.” O fenômeno dos garotos no comando de negócios digitais, no entanto, ainda não chegou ao Brasil, país que engatinha quando se trata de start-ups. Por que será? Os entraves burocráticos para a abertura de empresas é certamente um dos motivos, na opinião de Ylana, do Ibmec. “Essa geração tem ojeriza à burocracia”, diz ela, que também é diretora da consultoria de desenvolvimento pessoal Yluminarh.
A especialista cita como exemplo o Instagram, start-up americana que tem como um dos fundadores um brasileiro, Mike Krieger. A empresa foi vendida em 2012 por US$ 1 bilhão ao Facebook, quando empregava pouco mais que uma dúzia de funcionários. “No Brasil, metade da equipe teria de lidar com preenchimento de impostos como Darf, formulários na prefeitura, etc.”, diz ela . É evidente que no mundo adulto dos negócios sempre haverá questões nada atraentes com as quais lidar, como a burocracia, mas, de qualquer forma, o recado para os investidores – e para seus pais – é que o ímpeto criativo dos teens, aliado à familiaridade com as novas tecnologias, pode ser uma boa fonte para a geração de negócios inovadores.