Na comédia romântica Quero ficar com Polly, o corretor de seguros interpretado por Ben Styler serve-se de um programa de computador para calcular os riscos de ficar com Polly, uma desorganizada garçonete vivida pela atriz Jennifer Aniston. Apesar de usos como esse restringirem-se à ficção, os softwares de gestão de risco tornaram-se realidade há muito tempo. Agora, com o crescimento do crédito e com a popularização dos empréstimos, seu crescimento vem sendo exponencial.

Esses sistemas, frequentemente chamados robôs, têm sido usados principalmente para analisar o risco que um banco ou loja correm ao conceder crédito. O risco, ou seja, a probabilidade de o tomador não pagar sua dívida, é calculado em função de fatores como renda, idade e histórico de crédito. Os programas tornam essa avaliação mais ágil, captando informações que estão dispersas por diferentes bases de dados e formando um perfil do cliente. 

 

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Fernando Blanco, presidente da Crivo: acredite, o analista de crédito está à direita na foto

 

De acordo com Germano Vasconcelos, sócio-fundador da desenvolvedora de softwares Neurotech, do Recife, outro grande potencial da ferramenta é criar procedimentos de crédito que possam ser operados de forma automática. “Isso padroniza a tomada de decisão”, diz. Uma das principais fornecedoras dessa tecnologia é a empresa paulista Crivo, que iniciou suas atividades em  2000 e faturou R$ 25 milhões em 2010. O programa desenvolvido pela Crivo consulta mais de 200 fontes, captura os dados sobre o cliente e alimenta os programas dos bancos com essas informações. 

 

Cada informação ganha uma pontuação. O resultado aparece na tela do computador do analista de crédito sob a forma de instruções simples: emprestar, não emprestar ou emprestar até certo limite. “O nosso cliente quer mais informações do que simplesmente se o cliente pagou ou não sua última dívida”, diz Fernando Blanco, presidente da Crivo.

 

A empresa Vivere Brasil tem adotado uma estratégia diferente. Em vez de alugar a tecnologia, a empresa especializou-se no crédito imobiliário. A Vivere desenvolve programas que, além de obter  informações sobre os clientes, fazem simulações de financiamento, certificação de documentos e emissão de boletos. “Sem a tecnologia, um banco não consegue processar mais do que 300 contratos por mês”, diz Marcos Burattini, presidente da Vivere Brasil. “Nós reduzimos a intervenção humana ao mínimo necessário.” Criada em 2006, a empresa atende clientes como Santander, Banco do Brasil e a construtora Cyrela. 

 

O lado bom para o consumidor é que a angústia da espera acabou. A automatização do processo de decisão tornou a resposta quase instantânea. Um analista consulta o sistema e confirma ou nega o empréstimo em segundos. Por outro lado, ficou mais difícil ganhar no grito e no drama. As decisões são padronizadas e a margem para o jeitinho ou para exceções diminuiu.

 

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Os bancos de dados buscam principalmente informações públicas, como endereço, situação trabalhista e validade do CPF. Algumas informações de bancos de dados particulares podem ser acrescentadas, como operações do cliente na própria empresa. As redes sociais ainda ficam fora do alcance dos programas. “Um analista pode até xeretar, mas as redes sociais acrescentam poucos dados sobre o comportamento financeiro do cliente”, diz Blanco.

 

A vinda do cadastro positivo (leia mais na seção Dinheiro do Investidor) foi bem-vista pelas empresas que calculam riscos. O cadastro é um banco de dados que atribui boas notas a quem paga em dia, em vez de alertar sobre o cliente problemático, fornecendo um recurso adicional para os profissionais de crédito. “O objetivo do financiador é conhecer o cliente e quanto mais informações, melhor”, diz Vasconcelos, da Neurotech.