28/01/2015 - 19:00
Não é preciso caminhar muito pelos corredores dos shoppings, ou pelas principais ruas de comércio a céu aberto do País, para encontrar uma nova loja voltada exclusivamente para o consumidor infanto-juvenil. É “kids” e “baby” para cá, “júnior” e “teen” para lá e vice versa. Esse fenômeno tem uma explicação lógica. O ano passado se consolidou como o pior para o setor de vestuário desde 2009, auge da crise financeira internacional. Entre janeiro e novembro do ano passado, as vendas de roupas registraram queda de 0,7% na comparação com o mesmo período de 2013, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.
Por isso, um dos caminhos escolhidos pelas grandes marcas para estancar a retração foi apostar em coleções para crianças, um mercado que movimentou R$ 29,3 bilhões em 2013, último dado consolidado existente. A tática parece estar dando certo. Algumas empresas registram dois dígitos de crescimento em sua linha infantil, enquanto suas lojas de roupas para adultos apresentam queda nas vendas. É o caso da catarinense Cia. Hering, que em 2013 contabilizou expansão de 25,5% em sua linha Hering Kids. De acordo com Edson Amaro, diretor da marca, parte do crescimento se deu pela expansão das franquias dedicadas ao público infantil.
“Mas a ampliação dos pontos de vendas só ocorreu porque ganhamos confiança no produto, conquistando mercado rapidamente desde 2011”, afirma. Até o terceiro trimestre de 2014, a marca tinha crescido 8,4% em vendas em relação ao ano anterior. O resultado é muito superior à retração de 1,8% nos resultados totais da marca principal, a Hering. Atualmente, a companhia baseada em Blumenau, no Vale do Itajaí, detém 4,2% do mercado de vestuário infantil com duas marcas, a Hering Kids e a PUC. Das passarelas para os guarda-roupas das crianças, a Ellus, uma das grandes marcas da InBrands, é outra que também resolveu apostar no mercado infantil e, a partir de março, colocará suas coleções nas vitrines.
“A expectativa é ter 5% de participação do segmento infantil nos resultados da marca no primeiro ano e chegar a 20% em alguns anos”, afirma Adriana Bozon, diretora de branding da Ellus. Dentro da linha esporte fino, a Brooksfield, que desde 1999 mantém uma rede de lojas infantis, a Brooksfield Junior, resolveu fazer novas investidas nesse segmento. Antes apenas voltada para os meninos, a empresa lançou no final do ano passado também a linha Girls. “A receptividade foi tão grande que vamos ter espaços dedicados para esse segmento nas próximas lojas”, diz Mariana Nassralla, diretora das marcas Brooksfield Junior, Donna e Girls.
Os projetos na área infantil não ficam restritos às companhias brasileiras, atraindo marcas internacionais que desembarcaram no País recentemente, como a americana Gap. A companhia já possui uma linha Kids e Baby em suas lojas, mas resolveu montar uma unidade dedicada exclusivamente à garotada. Em maio do ano passado, a primeira loja nesse formato foi aberta no Shopping Cidade Jardim. “Eles não estão investindo apenas em produtos infantis, mas em nichos para esse público”, afirma Marcelo Prado, diretor do Iemi. A Gap investe em produtos casuais, com conforto, mas sem infantilizar suas peças.
A Brooksfield também buscou esse posicionamento. No caso da marca Junior, a ideia é atender ao público de 2 a 16 anos, porém apostando em produtos semelhantes ao de seus pais. Já a Girls começa a partir dos 6 anos e vai até os 14 anos. “Mas sabemos que o público principal será dos 10 aos 13”, diz Mariana. “A ideia é não infantilizar a criança, ser casual e ter um estilo muito próximo ao dos adultos”. A Ellus também acredita que os gostos dos pais e dos filhos estão cada vez mais sintonizados.
Apesar de contar com licenças para explorar personagens da Disney ou dos Muppets, as estampas mantêm o estilo mais adulto, em cores sóbrias, como preto e cinza. “Ter peças para crianças era um pedido dos pais”, afirma Adriana, diretora de branding. O teste do mercado será feito por uma loja itinerante e em redes de varejo multimarca. Essa não é a primeira investida de sua controladora InBrands, que fatura R$ 1,1 bilhão por ano, no mundo das crianças. A empresa já tem operações com as marcas VR, Richards e Tommy Hilfiger. “Nada impede que outras também venham a entrar nesse segmento”, diz a diretora da Ellus.