24/03/2023 - 4:10
Em um dos primeiros compromissos oficiais de Luiz Inácio Lula da Silva neste ano, logo em 3 de janeiro, o presidente entregou para o embaixador chinês no Brasil, Zhu Qingqiao, uma apresentação de cartas credenciais — um simbólico gesto entre um chefe de Estado, uma demonstração formal de respeito de aceitação de intercâmbio diplomático. Mas era só um primeiro passo. Lula desembarca na China na segunda-feira (26), acompanhado de outros representantes do governo e de empresários brasileiros, para reconstruir pontes e acelerar os negócios entre os dois países. Ao lado do presidente deverão estar o ministro da Economia, Fernando Haddad, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, e ex-presidente Dilma Rousseff, que vai tomar posse no banco dos Brics no lugar de Marcos Troyjo.
Uma das fundadoras do banco, em 2014, Dilma será acomodada por Lula em um cargo emblemático para o governo. A indicação da ex-presidente equaciona um impasse interno do governo petista porque confere um cargo de peso à Dilma, que não foi indicada a ministérios por causa da rejeição popular. A visão é de que Dilma não tem no exterior a impopularidade conquistada dentro do Brasil. A decisão de Lula também demonstra o objetivo do governo Lula 3 de fortalecer a aliança do Brasil com países emergentes e, assim, reduzir a dependência de financiamentos de instituições como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI).
Fora do capítulo Dilma, o presidente Lula tentará contribuir para um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, apesar da vista de Xi Jinping a Vladmir Putin dias atrás. Na área econômica, no entanto, a ordem é fazer negócios e desfazer a péssima imagem internacional que marcou o País no mandato de seu antecessor, Jair Bolsonaro. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, com US$ 152 bilhões de comércio bilateral no ano passado, quase o dobro dos US$ 88,8 bilhões dos Estados Unidos. “Podemos esperar um fortalecimento dos Brics, onde a China é o principal é país por ser a segunda maior economia mundial hoje”, afirmou Fábio Sobreira, sócio e analista da Harami Research. “Os Brics representam 30% do PIB global e quase 40% da população mundial. A China é o principal motor disso tudo”, disse.
Um termômetro disso é a relação de passageiros da comitiva de Lula. A lista inclui nomes dos setores de produção de carne bovina, aves, suínos, celulose, algodão, insumos e outros. Além de Joesley e Wesley Batista, da JBS, a indústria frigorífica enviará executivos de empresas como Minerva, Marfrig, BRF e Aurora. Coincidência ou não, na quinta-feira (23) a China anunciou a retomada das importações de carne do Brasil, suspensas desde o mês passado. Do setor de celulose, irão diretores da Suzano e da Paper Excellence.
Para Ricardo Hammoud, professor de macroeconomia no Ibmec-SP, o grande desafio de Lula na China será garantir o crescimento da relação comercial com a China sem gerar desconforto diplomático com os americanos. “O Brasil terá de se mostrar próximo da China e atrair investimentos, sem distanciar da boa relação com Estados Unidos e confrontar os interesses do Ocidente.”