05/09/2012 - 21:00
Quando deixou o governo britânico, em 2007, depois de dez anos como primeiro-ministro, Tony Blair saiu sob uma enxurrada de críticas por sua cumplicidade com o ex-presidente americano George W. Bush na farsa sobre a existência de um suposto arsenal de armas de distribuição em massa no Iraque. Mas as críticas não desanimaram o ex-premiê, hoje com 59 anos. Depois de se instalar numa mansão num bairro nobre de Londres, Blair saiu em busca de atividades que lhe permitem transitar entre missões tão diferentes quanto promover a paz no Oriente Médio, a prática de esportes no nordeste da Inglaterra e, agora, a melhoria da gestão no Estado de São Paulo.
Tony Blair: “Vamos ajudar a levantar os projetos que serão prioridade
para São Paulo no futuro”
Essa mistura de funções públicas e privadas, gratuitas e altamente remuneradas, tem sido a tônica da nova vida do político que simboliza o auge e a derrocada do Partido Trabalhista nas duas últimas décadas. Na semana passada, o governo de São Paulo se tornou o mais novo cliente do consultor Blair, atualmente um dos políticos mais impopulares e menos respeitados em seu próprio país. Assim como já lograra, em 2010, no Rio de Janeiro, o ex-primeiro-ministro britânico assinou um contrato de R$ 12 milhões para auxiliar o governador Geraldo Alckmin a melhorar a gestão dos órgãos públicos nos próximos 12 meses.
“Vamos ajudar a levantar os projetos que serão prioridade para São Paulo no futuro”, afirmou Blair, na segunda-feira 27, após assinar o contrato. “Nossa equipe vai trabalhar de forma conjunta para ajudar a implementar esses programas.” As atividades do empresário Blair no Brasil também incluíram palestras, pelas quais cobra um valor estimado em US$ 300 mil. Um dia depois de fechar o contrato com Alckmin, ele participou junto com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton de um evento promovido pelo Itaú BBA, com uma plateia de CEOs latino-americanos. Os três falaram sobre a crise internacional e lembraram casos de quando estavam no poder.
Blair fez também uma parceria com o Movimento Brasil Competitivo (MBC), que intermediou o acordo com o governo de São Paulo e está prospectando contratos com outros governos. O presidente do MBC, Erick Camarano, acredita que Blair pode contribuir com a gestão em vários governos brasileiros. “Ele tem experiências bem-sucedidas, especialmente em parcerias público-privadas no setor ferroviário e em educação”, afirmou Camarano. Por enquanto, o ex-primeiro-ministro tem apenas um pequeno escritório no País, mas a equipe deve crescer com o contrato com o governo paulista.
Em Londres, o The Office of Tony Blair, que congrega as atividades sem fins lucrativos, e a Tony Blair Associates, de consultoria, empregam cerca de 150 pessoas. De São Paulo, Blair embarcou para Brasília, onde fez uma palestra no Congresso Internacional Brasil Competitivo, promovido pelo MBC. Dessa vez, sem cobrar o seu cachê. No mesmo dia, ele foi recebido pela presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Segundo revelou aos jornalistas, Dilma lhe disse que havia lido sua autobiografia, Uma jornada. Os dois conversaram também sobre as dificuldades que o ex-líder britânico teve para implementar em seu país, no fim dos anos 1990, as parcerias público-privadas.