21/10/2019 - 8:00
A Terra nunca esteve tão vigiada e esse mapeamento só vai… aumentar. Isso porque a cadeia produtiva das geotecnologias experimenta forte competitividade – barateamento da captação de dados por satélites, aviões e drones; mais opções de prestação de serviços (imagens e análises), e aumento da demanda por informação (governos, cidades, empresas, agronegócio, ONGs). Essa agitação tende a popularizar cada vez mais o chamado sistema de geolocalização. Só em 2019, esses setores devem gerar R$ 1,5 bilhão em negócios no Brasil, segundo a consultoria MundoGEO, há 20 anos no ramo de sensoriamento remoto. O segmento já emprega mais de 100 mil profissionais.
A vibração é global. No começo do ano, a consultoria norte-americana Frost & Sullivan estimou um total de receita mundial de US$ 69 bilhões até 2030 só no setor de pequenos satélites. “É uma oportunidade para toda a indústria, incluindo o Brasil e um possível destravamento da Base de Alcântara”, diz o engenheiro Emerson Granemann, CEO da MundoGEO. Alcântara, a base brasileira de lançamento de foguetes, é alvo de um polêmico acordo com os Estados Unidos pelo seu uso comercial, que, advogam alguns, feriria a soberania nacional.
O Brasil não tem lá um ambiente científico pujante – laboratórios, indústria, pesquisa – para dar conta da sofisticação constante da tecnologia embarcada nos satélites. Há, porém, ilhas de excelência. “Poderia estar melhor, mas temos instituições com desenvolvimento tecnológico interessante, como o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe)”, diz Granemann. Hoje, a grande maioria dos satélites que mapeiam o território brasileiro é internacional. É certo que as empresas que fazem o processamento de dados – contratadas por governos regionais, iniciativa privada e organizações do terceiro setor – são locais. São elas que dão suporte à atividade agrícola, à exploração de terrenos e à detecção de queimadas e desmatamentos.

O mapeamento mais barato é por satélites, mas geotecnologias são usadas em aviões, drones e até balões. No caso de um satélite tradicional, cujo monitoramento é feito a 800km de altura, a dificuldade está na construção e no lançamento. Pesam cerca de 200kg e consomem R$ 100 milhões para começar a trabalhar. Aí entra a revolução dos nanossatélites. Com cerca de 5kg, chegam ao espaço ao custo de US$ 500 mil. Até 2011, lembra Granemann, o padrão era colocar um satélite em órbita por vez. Desde então, já foi possível lançar até 88 nanossatélites simultaneamente. São do tamanho de uma caixa de sapato, com microcâmeras que permitem captar imagens e disponibilizar acompanhamento quase em tempo real. O primeiro nanossatélite com tecnologia nacional, o VCUB, desenvolvido pela Visiona Tecnologia Espacial, deve subir em 2020. Vai dar apoio ao agronegócio.
O avanço das geotecnologias só acelera. A Agência Espacial Europeia (ESA), por exemplo, já anunciou o lançamento de um satélite embarcado com Inteligência Artificial, que promete melhorar o envio de dados à Terra. O futuro, diz Granemann, é promissor. Não apenas o planejamento municipal de cidades inteligentes usará cada vez mais o mapeamento espacial, no suporte a decisões de controle ambiental e de engenharia de grande impacto, como a iniciativa privada também, especialmente no agronegócio. Sem contar a esfera federal. O Ministério da Defesa criou o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (Pese), que inclui construção, lançamento e operação nacionais de diversos satélites, para atender a demandas da defesa nacional e de projetos civis.