Em Avatar, blockbuster hollywoodiano que detém até agora a maior bilheteria da história do cinema, o diretor americano James Cameron mostra uma empresa fictícia interessada em explorar minerais raros, localizados no não menos fictício Pandora, planeta distante da Terra. Daqui a alguns anos, esse tipo de cena de ficção poderá sair das telas e chegar ao mundo dos negócios. O cineasta se uniu ao fundador do Google, Larry Page, para criar a Planetary Resources. O objetivo da companhia, lançada na terça-feira 24, é procurar minerais raros e água existentes em asteroides, em um movimento que pode revolucionar a exploração comercial do espaço. A lista de investidores conta, ainda, com gente que não costuma rasgar dinheiro, como Ross Perot Jr., filho do bilionário texano Ross Perot – ex-candidato à Presidência dos EUA –, e Eric Schmidt, presidente do conselho do Google. 

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No mundo da Lua: Larry Page é mais um da crescente lista de bilionários

da internet interessados em criar empresas voltadas

para a exploração espacial.

 

“Sabemos que há um risco enorme envolvido no investimento e que os dividendos não chegarão rapidamente”, afirmou Eric Anderson, um dos cofundadores da empresa. “Mas o retorno potencial é acima do de qualquer outro setor no planeta atualmente.” Do ponto de vista mineral, faz sentido explorar o espaço. As rochas que flutuam lá em cima são ricas em minérios raros na Terra, como platina, irídio, rutênio e paládio, usados em diversos processos industriais e na fabricação de produtos eletrônicos. Um único asteroide de tamanho médio, com 500 metros de diâmetro, pode conter mais desses minerais do que tudo o que já foi extraído na história da humanidade. O valor de mercado dessa pedra espacial estaria na casa de quase US$ 3 trilhões de dólares, mais do que o PIB brasileiro. 

 

E existem pelo menos 1.500 asteroides em órbitas próximas à Terra, mais fáceis de se atingir do que a Lua. A água presente nas rochas em forma de pequeninos pedaços de gelo não é menos valiosa. Seus componentes – hidrogênio e oxigênio – são os principais materiais usados para a fabricação de combustível de foguetes. Isso significa transformar os asteroides em verdadeiros postos de gasolina no espaço. É muito mais barato do que levar a água existente na própria Terra: custa US$ 20 mil para transportar cada litro até a órbita. Para os donos, o valor de um posto desses é de US$ 5 trilhões por unidade. Mas a tarefa não é tão simples quanto parece. Simplesmente, não existe ainda a tecnologia necessária para viabilizar a operação em termos de custo. 

 

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A vida imita a arte: James Cameron é um especialista em desbravar limites:

antes de investir no espaço, financiou a exploração dos destroços

naufragados do Titanic.

 

Como enfrentar esse problema? “Ganhando escala e infraestrutura aos poucos”, diz Anderson. Assim, em vez de partir logo rumo ao objetivo maior, a empresa preferiu dar pequenos passos. O primeiro será colocar em órbita, até o fim do ano que vem, cinco pequenos telescópios espaciais que vão localizar mais asteroides e calcular suas rotas, para verificar se estão próximos o suficiente para serem explorados. A segunda iniciativa será visitar essas rochas com sondas que irão estudar sua composição e descobrir se elas têm minérios em quantidade que valha a pena ser explorada. Isso deve acontecer em até sete anos. É apenas após esse tempo que os alvos escolhidos deverão começar a ser explorados, com uma tecnologia que deverá ser desenvolvida ao longo desse tempo. 

 

O avanço dos investimentos privados no espaço é uma tendência mundial, na medida em que os orçamentos curtos minam as operações das agências governamentais. A própria Nasa, por exemplo, ainda não definiu claramente o que irá fazer após ter aposentado o seu último ônibus espacial, no ano passado. É nesse vácuo que têm se multiplicado as empresas privadas, patrocinadas principalmente por empresários do ramo da internet. Jeff Bezos, criador da Amazon, iniciou a Blue Origin, que está desenvolvendo um veículo espacial de carga. Elon Musk, um dos fundadores da PayPal, é CEO da SpaceX, considerada a companhia mais bem-sucedida do ramo. 

 

Em menos de dez anos, ela já criou três famílias de foguetes e prepara um novo modelo para substituir as naves russas que a Nasa tem contratado para levar suprimentos até a Estação Espacial Internacional. E o magnata britânico Richard Branson está se preparando para levar turistas ao espaço através da Virgin Galactic. Um de seus passageiros será o piloto Rubens Barrichello, que desembolsou US$ 200 mil pela viagem. O que une o sucesso de todas essas figuras? “Eles são em parte loucos e em parte gênios”, disse o físico Michio Kaku em entrevistas à tevê americana. “Mas, acima de tudo, eles têm muito dinheiro para investir.”

 

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