Moritz Erhardt era o filho perfeito. Amoroso em família, popular entre os amigos. Excelente aluno, com notas muito acima da média, ele sabia desde cedo que desejava fazer sucesso no mundo dos negócios. Após o colegial, cursou a universidade WHU, uma das melhores escolas de negócios da Alemanha. Ao se formar em administração, aos 21 anos, obteve uma das concorridas vagas para o estágio de verão do Bank of América Merrill Lynch, em Londres. No dia 15 de agosto passado, quase no fim do estágio que deveria culminar com sua contratação, após trabalhar 72 horas praticamente sem interrupção, o pontual e dedicado Moritz não foi ao escritório. Um colega e um sócio do banco foram ao alojamento que ele dividia com outros candidatos, para encontrá-lo morto no chuveiro. 

 

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Moritz Erhardt: trajetória acadêmica brilhante, desejo pelo sucesso no mundo dos negócios

e a morte prematura devido a um ataque epiléptico após trabalhar demais

 

A primeira suposição foi um ataque cardíaco provocado por exaustão. Quatro meses depois, porém, o laudo do legista provou que o excesso de trabalho provocou um ataque epiléptico, que vitimou Moritz. A morte prematura, poucos dias antes de completar 22 anos, disparou uma enxurrada de críticas às jornadas extenuantes a que os bancos de investimento submetem seus profissionais. O banco divulgou um comunicado em que prometia fazer revisões em suas práticas de trabalho. Porém, passados seis meses, candidatos das escolas de negócios de todo o mundo submetem, esperançosos, seus currículos para instituições como Goldman, Sachs ou J.P. Morgan. 

 

E, para eles, qualquer oferta de trabalho que ofereça uma jornada menos enlouquecida está automaticamente descartada. “O ambiente de trabalho dessas instituições provoca isso, é uma questão cultural”, diz a consultora paulista Suzana Falchi, sócia da consultoria HSD. “Quem procura emprego em um banco de investimentos sabe que o sacrifício da vida pessoal faz parte do negócio”, diz Ana Guimarães, gerente responsável pela divisão de mercado financeiro da empresa de recrutamento americana Robert Half. “O processo de recrutamento e seleção busca candidatos que sejam workaholics e comprometidos com resultados, mesmo com uma pressão enorme.” 

 

A explicação é simples: no caso brasileiro, um recém-contratado de um banco de investimentos de primeira linha pode receber salários de R$ 7 mil a R$ 15 mil. Se as metas, sempre ambiciosas, forem superadas, os bônus oscilam entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. “Simplesmente é muito dinheiro para um recém-formado, e ele está disposto a fazer sacrifício para ganhar isso”, diz. Por isso, a trajetória de muitos desses profissionais é semelhante. O trabalho extenuante por três ou cinco anos proporciona uma reserva financeira que permite abrir seu próprio negócio ou até pendurar as chuteiras mais cedo. “É uma forma de fazer dinheiro rápido por meio de um sacrifício da qualidade de vida, e muitos jovens estão dispostos a isso”, diz.

 

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