No dia 17 de fevereiro, uma parte importante do antigo conglomerado empresarial de Eike Batista entrará em uma nova fase. Nessa data, três empresas que pertenceram ao empresário passam a contar oficialmente com novos presidentes. A companhia energética Eneva, ex-MPX, terá à sua frente Fábio Bicudo, que até o ano passado era corresponsável pela área de banco de investimentos do Goldman Sachs. A Parnaíba Gás Natural, antiga OGX Maranhão, será comandada pelo ex-tesoureiro do grupo britânico BG (British Gas), Pedro Zinner. Nesse time de herdeiros de Eike, que já foi o homem mais rico do País, entra também Eduardo Parente, novo comandante da LLX, a companhia de logística do grupo X, atualmente denominada Prumo. 

 

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Eike Batista: o conglomerado do empresário chegou a valer R$ 70 bilhões em 2010.

Hoje, suas empresas valem menos de R$ 6 bilhões

 

Parente ocupou, nos últimos quatro anos, o cargo de principal executivo da concessionária de ferrovias MRS. Ao contrário dos outros dois dirigentes, ele já iniciou os trabalhos no novo emprego. Além de estarem sob nova direção, as três empresas compartilham uma outra realidade similar: todas enfrentam o desafio de se desvencilhar da sina que se abateu sobre os empreendimentos de Batista. O grupo X, que já foi um dos maiores do País, hoje está reduzido a uma fração do seu tamanho. Juntas, as empresas do conglomerado chegaram a valer mais de R$ 70 bilhões, em 2010. No mês passado, o que restou da viagem megalomaníaca valia menos de R$ 6 bilhões. 

 

A comemorar, Batista tem o fato de ter conseguido entrar em um acordo com os credores da OGX, a joia da coroa do grupo, evitando a falência da empresa, que está em recuperação judicial. É sob essa sombra, e com a missão de recolocar uma parte importante do antigo império no rumo, que Bicudo, Zinner e Parente assumem seus novos empregos. “As empresas perderam um atributo importante, que era a sinergia entre os negócios no grupo EBX. Elas tinham atividades complementares e demanda garantida, mas agora vão precisar estruturar negócios independentes”, diz o advogado especializado em recuperações judiciais Artur Lopes, da Artur Lopes & Associados. 

 

“Os projetos de Eike foram vendidos em apresentações de Power Point e agora precisam virar planilhas de Excel.” A tarefa não será fácil em nenhum dos casos. Para não perderem dinheiro, os novos controladores precisam demonstrar rapidamente ao mercado que possuem planos de negócios consistentes. Mas a missão está longe do impossível. Na Eneva, que atua no ramo de geração de energia por meio de usinas termoelétricas, o desafio é equacionar as dívidas. Atualmente, seu endividamento está na casa dos R$ 7 bilhões. Para reduzi-lo, a companhia estuda vender alguns ativos, entre eles as usinas de Parnaíba II, Itaqui e Pecém II. 

 

Em dezembro, o então presidente da empresa, Eduardo Karrer, afirmou que a previsão de faturamento para 2014 era de até R$ 2,5 bilhões. “Com certeza, pagamos as despesas”, disse Karrer, durante conferência com investidores. O responsável por dar continuidade a essa tarefa, Fábio Bicudo, tem larga experiência no setor financeiro. Além de ter sido um dos responsáveis pela área de investimentos do Goldman Sachs, o executivo desenvolveu um bom trânsito nas instituições financeiras e junto a grandes empresários. Em seus 16 anos de experiência na área, ele também trabalhou no Citigroup, em Nova York. Conhecido pelo estilo discreto, é avesso a badalações e aos holofotes e raramente aceita tirar fotografias. 

 

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Nos últimos anos, um bom número dos mais importantes negócios coordenados pela área de banco de investimentos do Goldman envolveu empresas do setor de energia e eletricidade, como ofertas de ações da Alupar e da Taesa. “Apesar de ter feito a sua carreira na área financeira, o setor energético não é desconhecido para ele”, diz um ex-executivo do Goldman Sachs, que trabalhou com Bicudo em uma série de projetos. O banco americano também foi o principal assessor da alemã E.On no plano de investimentos na ex-MPX, que levou a companhia a uma participação de 37,9% no negócio, depois de uma série de compras de ações de Batista.

 

Com o seu destino ligado à Eneva, está a Parnaíba Gás Natural, a antiga OGX Maranhão. As duas empresas têm como sócio comum a E.On. Na Parnaíba, o controle – adquirido da OGX Petróleo – será dividido entre a Cambuhy Investimentos (72,7%), da família Moreira Salles, a própria Eneva (18,2) e a E.On (9,1%), logo após a conclusão de um aumento de capital de R$ 250 milhões. Mesmo sob o controle de Batista, a empresa era fonte de boas notícias para os seus investidores. No dia 29 de janeiro, encontrou gás natural num poço localizado a dez quilômetros do Campo de Gavião Real, do qual já extrai seis milhões de metros cúbicos diariamente. 

 

Quando teve o seu controle vendido pela OGX, a Parnaíba Gás era a única operação que gerava receita para a petrolífera de Batista. Para substituir Bruno Chevalier, o principal executivo na época de Batista, foi convocado um homem de confiança do banqueiro Pedro Moreira Salles: Pedro Zinner. Contratado junto ao grupo BG, ele é filho de Thomas Zinner, ex-presidente do Unibanco. Também a Prumo, antiga LLX, vislumbra um cenário positivo sob a direção de Parente, ainda que tenha passado por um momento de tensão, quando foi salva do recurso à recuperação judicial por aporte da gestora de fundos americana EIG Global Energy. 

 

Das seis companhias do grupo de Batista listadas em bolsa é a que menos se desvalorizou. Quando estreou na bolsa, em julho de 2008, seu valor de mercado era de R$ 1,75 bilhão. Na quinta-feira 6, fechou o pregão valendo R$ 1,72 bilhão. O trabalho do seu novo comandante, Eduardo Parente, que esteve à frente da MRS Logística por quatro anos e meio, deverá estar concentrado na conclusão de obras importantes, em especial a do porto do Açu. Principal ativo da Prumo, o porto necessita de recursos adicionais da ordem de R$ 3 bilhões para ser concluído. O valor é alto. Por outro lado, a empresa já conta com oito clientes que firmaram contratos de longo prazo. A expectativa é a de atrair mais empresas, especialmente do setor de petróleo e gás.

 

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