04/04/2014 - 21:00
Há redes sociais para tudo. Embora longe de ter a popularidade de um Facebook, existem sites e aplicativos que unem profissionais, fotógrafos, solteiros, vizinhos, motoristas, donos de pets e apaixonados por bigodes, entre tantas outras bizarrices. Com tanta segmentação, era natural imaginar que os investidores ganhariam espaço nesse mundo. A troca de informações dentro das redes sociais entre companhias e interessados é comum, mas o sistema se aprimorou e já é possível usar redes sociais como broker (corretora). Populares na Europa e nos EUA, sites de “social trading” (negociações sociais) como Currensee, Collective2 e eToro ganham fôlego no Brasil.
Como nas redes sociais, a privacidade não é incentivada. Só que, em vez de postagens com fotos de gatinhos, os sites de social trading escancaram os investimentos recentes dos usuários. Gráficos com o desempenho passado, estatísticas, portfólio e, para não fugir à tradição, as amizades de cada um podem ser vistos. O diferencial está no fato de permitir seguir (tal qual o Twitter) as operações de quem bem entender e até mesmo copiar automaticamente. O usuário determina quanto de dinheiro alocará em operações iguais às de outra pessoa e o sistema se encarrega de fazer as mesmas ordens, calculando o montante proporcional.
Usuários são incentivados a ter mais seguidores a fim de ganhar comissões e acesso a ferramentas mais profissionais. “Social trading faz ser aberto o que antes era secreto e escondido”, disse à DINHEIRO Matthew Klein, CEO da Collective2, que conta com 60 mil usuários de 20 países e diz faturar aproximadamente US$ 10 milhões. Esse contingente de usuários é atraído em parte pela interface simplificada, claramente inspirada nas redes sociais. “Curtição é um fator importante da nossa estratégia”, diz Dave Lemont, CEO da Currensee, empresa baseada em Boston. “Social trading é legal, desafiador e divertido, como Las Vegas.”
Esses preceitos da Currensee atraíram US$ 22 milhões de fundos como North Bridge Venture Partners, Egan-Managed Capital e Vernon & Park Capital. Em setembro do ano passado, a corretora multinacional de origem canadense Oanda, comandada pelo ex-PayPal e Citibank Ed Eger, adquiriu a Currensee por um valor não revelado. A grande plataforma de social trading, no entanto, é a israelense eToro. Criada em 2007 pelos irmãos Yoni e Ronen Assia, a eToro exibe 2,75 milhões de usuários em 140 países. O vice-presidente de novos negócios da eToro, Gil Ariel, aponta a facilidade do uso da plataforma como fator determinante para esse número de usuários.
“Social trading está para o mercado financeiro como a Amazon para o e-commerce”, diz Ariel. Como a internet não tem fronteiras, as empresas de social trading contam com usuários brasileiros. Isso é ilegal, pois nenhuma plataforma de social trading mencionada nesta matéria tem cadastro no órgão. “É necessária a autorização da Comissão de Valores Mobiliários para que uma plataforma de negociação de valores mobiliários (nacional ou estrangeira) funcione regularmente no Brasil”, disse em nota a própria CVM ao ser questionada por DINHEIRO. A lei 7.492 de 1986 prevê reclusão de dois a oito anos e multa a quem “negociar, de qualquer modo, títulos ou valores mobiliários” sem licença.
Além disso, as plataformas de social trading permitem investimento em Forex (Foreign Exchange), mercado de altíssimo risco que movimenta estimados US$ 4 trilhões por dia e é proibido no Brasil. O Forex permite a compra de pares de moedas, apostando na valorização ou desvalorização de uma sobre a outra – um investidor compra um contrato de duas moedas por um preço com a expectativa de vendê-lo por uma cotação maior no futuro, girando altos volumes de dinheiro sempre que há variações mínimas entre uma moeda e outra. A CVM alerta que o Forex no Brasil pode abrir margem a fraudes. As empresas admitem ter clientes no País.
A eToro chega a fazer publicidade digital em português e tem rankings de usuários mais populares do Brasil. Oficialmente, a empresa nega operar aqui: “No momento, não oferecemos nossa plataforma no Brasil (…) Estamos buscando um parceiro local para iniciarmos nossa operação”. Confrontada com prints das telas que atestam a operação no Brasil, a assessoria de imprensa da empresa não se manifestou. A Currensee frisou buscar “permanentemente se adequar dentro das regras dos países onde opera”, mas disse nunca ter recebido queixas do Brasil. A Collective2 afirmou tentar respeitar as regras de cada país. “Trabalhamos para ficar sempre dentro das regras de cada país”, diz a empresa.