O executivo brasileiro Fábio Rodrigues, presidente da cervejaria espanhola Estrella Galicia no País, leva uma vida de dar inveja. Ele concilia seu tempo entre, basicamente, duas coisas: cerveja e futebol. Além de responsável pela operação local da empresa, fundada em 1906, na cidade de La Corunha, no noroeste da Espanha, Rodrigues é conselheiro do Corinthians. “Nasci na zona leste e frequento o clube há 48 anos”, afirma o executivo, 50 anos, enfatizando suas raízes no principal reduto corintiano da cidade de São Paulo.

“Ainda faço parte do conselho, mas hoje, com todo o trabalho aqui na Estrella Galicia, estou mais afastado.” Trabalho realmente não tem faltado para o executivo e sua equipe. Ao contrário da seleção espanhola, cuja participação na Copa do Mundo se resumiu a uma humilhante eliminação na primeira fase, a Estrella Galicia está se dando muito bem no Brasil. Desde que Rodrigues assumiu o posto, no início de 2013, o escritório brasileiro da cervejaria passou de mero importador para produtor.

Neste ano, a Estrella Galícia começou a fermentar e engarrafar a bebida na fábrica da Conti, localizada em Cândido Mota, no interior de São Paulo, com matéria-prima importada da Espanha. Até o mestre-cervejeiro, responsável por acompanhar a produção, é espanhol. Dessa forma, a empresa passou a oferecer seu produto em garrafas de 600 ml, recipiente preferido dos brasileiros e que só existe por aqui. Com uma política de preços agressiva – as garrafas de 600 ml eram encontradas a R$ 3,99 –, a Estrella começou a fazer barulho em um mercado dominado pela brasileira Ambev, que detém quase 70% do mercado brasileiro.

“É um mercado difícil, disputado por grandes empresas”, diz Rodrigues. “Mas ninguém gosta de monopólio, por isso muita gente está enxergando a Estrella como uma alternativa.” Apesar do preço competitivo, comparável ao das cervejas populares, bater de frente com a Ambev, a japonesa Brasil Kirin, a holandesa Heineken e o brasileiro Grupo Petrópolis não está nos planos da cervejaria espanhola. A meta da empresa é ganhar uma fatia do segmento premium, que representa cerca de 2% do total, nas contas de Rodrigues. Trata-se de um mercado de R$ 2 bilhões, levando-se em conta que o setor movimenta aproximadamente R$ 90 bilhões.

O faturamento da Estrella Galicia, que é controlada pela holding Hijos de Rivera, uma empresa familiar comandada pela quarta geração de herdeiros, foi de € 450 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão). “O Brasil tem potencial para igualar o faturamento na Espanha”, afirma o executivo. O otimismo da Estrella Galicia baseia-se no fato de que o mercado de cervejas premium tem crescido acima da média do setor. “Os consumidores brasileiros estão organizando melhor suas finanças, por isso as chances de prestarem mais atenção nos benefícios de um produto são maiores”, afirma Sheila Salina, analista da consultoria britânica Mintel.

A Estrella Galicia quer conquistar pessoas que não querem beber uma cerveja popular, mas, ao mesmo tempo, estão dispostas a gastar entre 10% e 20% a mais por um produto de melhor qualidade. A cerveja espanhola, por exemplo, não leva milho ou outros cereais em sua formulação, diferentemente da maioria das cervejas populares, cuja proporção de cereais não maltados na composição pode chegar a 40%. O bom começo da operação brasileira fez o CEO da Hijos de Rivera, Ignacio Rivera, antecipar os planos de uma fábrica. O objetivo era construí-la nos próximos cinco anos. Mas o prazo deve encurtar para aproximadamente 12 meses, segundo Rodrigues.

O executivo não revela o quanto será investido. Uma fábrica de cerveja, no entanto, custa no mínimo R$ 30 milhões. Rivera, que foi o grande responsável por expandir as operações da empresa para além da Galícia – hoje ela atua em mais de 40 países –, tem um motivo a mais para investir no Brasil. Ele é casado com uma brasileira. Se no futebol o estilo tiki-taka, que consagrou os atletas Xavi e Iniesta, está sendo sepultado nesta Copa do Mundo, no ramo da cerveja, pelo menos, os espanhóis estão jogando um bolão.

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