08/04/2016 - 20:00
Quem acompanha de perto o dia a dia da presidente Dilma Rousseff sabe que a gentileza não é a sua principal característica. São incontáveis os relatos de assessores desrespeitados e ministros constrangidos em reuniões no Palácio do Planalto. Alguns interlocutores até admitem que, em várias ocasiões, a “bronca” da presidente é “válida” diante da inoperância de alguns ministros. Aliás, seus assessores salientam que nada é capaz de deixá-la mais irritada do que uma pessoa despreparada para uma reunião.
Isso não justifica, é claro, a forma indelicada com que a “bronca” é dada. Essa aura de gerente durona e implacável, criada desde os tempos em que era secretária de Energia, no Rio Grande do Sul, na década de 1990, gerou uma situação recorrente e curiosa. Até os empresários, quando tinham audiência em Brasília, temiam as reações de Dilma. Não há registro até hoje, é verdade, de que a presidente tenha sido rude com algum representante do setor produtivo. “Nem sempre ela estava com sorriso no rosto”, disse certa vez um executivo do setor industrial.
“Mas os puxões de orelhas, nas reuniões, eram restritos aos seus funcionários.” Quem vai a Brasília fazer lobby – atividade legítima – sabe que precisa ter os argumentos na ponta da língua se quiser ser ouvido pela presidente. Quando ela concorda com o pleito, imediatamente despacha o assunto para o ministro responsável e cobra rapidez na solução do problema. Visto por esse ângulo, a postura firme e pragmática de Dilma é elogiável. Mas, e quando ela não concorda com o pleito? Segundo empresários que passaram por essa situação, “a arte de argumentar para um pessoa que não quer ouvir é realmente uma arte”.
Nesse contexto, receber críticas está longe de ser a atividade preferida da mandatária. Poucos assessores têm a coragem de questioná-la ou simplesmente alertá-la de que algo pode estar errado. Uma palavra mal proferida e o interlocutor estaria “morto”. Nos primeiros quatros anos de mandato, quando ainda gozava de uma razoável popularidade, a presidente Dilma nunca se preocupou em tratar os empresários “a pão de ló”. Ao contrário: seja por convicções ideológicas ou por mero menosprezo, ela esvaziou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado pelo ex-presidente Lula para estreitar laços com os representantes do PIB.
Cientes de que o relacionamento jamais seria afetuoso, os empresários nunca morreram de amores pelo governo. Em alguns setores, é claro, sempre lutaram por benefícios fiscais. Porém, o que mais chamava a atenção no primeiro mandato de Dilma era o receio do setor produtivo de criticar publicamente o governo. Com raríssimas exceções, empresários e executivos de entidades corporativas pisavam em ovos para reclamar da presidente ou mesmo da equipe econômica.
“Esse governo é extremamente vingativo”, disse certa vez o presidente de uma entidade, enquanto tomava cafezinho no 15º andar do prédio da Fiesp. “Se alguém der entrevista falando mal da Dilma, nunca mais será recebido em Brasília.” Causou espanto, portanto, quando, em meados de 2014, o controlador da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, afirmou que “só um louco investe no Brasil”. Foi uma crítica direta à gestão Dilma. Diante de uma forte queda de popularidade e de um processo de impeachment, esse quadro mudou radicalmente.
A cada dia que passa, mais entidades e empresários criticam abertamente o governo federal e pedem o impeachment ou a renúncia da presidente. É um movimento sem volta, pois o setor produtivo se cansou dos mandos e desmandos de Dilma. Eles sabem que, se ela vencer a batalha no Congresso, haverá retaliações (leia-se vingança). Mas, com uma economia em frangalhos, ser oposição a um governo inerte traz mais ganhos do que perdas. O fato é que, após anos de cautela e freio na língua, os empresários perderam o medo de Dilma.