Aos 85 anos de idade, o bilionário americano Warren Buffett, sócio de Jorge Paulo Lemann na 3G Capital e dono da gigante Berkshire Hathaway, parece não conseguir realmente se aposentar. Seus dias de trabalho dobrado continuarão, pelo menos, até oito de novembro, data oficial da eleição presidencial dos Estados Unidos. Além de seu amor pelo mundo dos negócios, Buffett ganhou um motivo a mais para manter-se ainda mais ativo: impedir que o empresário Donald Trump, o boquirroto candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano, se torne o próximo presidente do país. Em um comício da candidata democrata Hillary Clinton, realizado no início deste mês em Nebraska, Buffett prometeu fazer o que puder para que Trump não vença. “Levarei ao menos 10 pessoas com dificuldade de acesso para conseguir votar”, disse o investidor. “Nós vivemos em um lugar muito especial, e o Trump não sacrificaria nada pelo bem do país.”

Warren Buffett também afirmou que “até mesmo um macaco” teria ganho mais dinheiro do que os investidores que apostaram nas ações de empresas de Trump em meados dos anos 1990. Isso também revela o medo que ele, e outros grandes executivos, têm de perder dinheiro na hipótese de Trump vencer Clinton e implantar suas ideias políticas e comerciais isolacionistas, fechando os EUA aos parceiros históricos, como o México e o Canadá, e restringindo a imigração. Neste ano, a agenda xenófoba de Trump espantou uma lista extensa de patrocinadores republicanos. Gigantes como Apple, Wells Fargo, JP Morgan Chase, Ford, Coca-Cola, entre outros, o deixaram falando sozinho. “As reduções nas doações ao partido são um sinal claro que parte do empresariado não está satisfeita com a escolha republicana”, diz Laura Carlsen, diretora do Center for International Policy, de Washington.

A demandada das companhias fez com que a frágil aliança entre o partido e o candidato ficasse ainda mais instável. Depois de notórios membros do partido, como Mitt Romney e a família Bush, se distanciarem da campanha, foi a vez de Meg Whitman, a bilionária CEO da Hewlett-Packard. Na semana passada, a executiva e ex-candidata republicana ao governo da Califórnia declarou apoio a Clinton por considerar Trump um “demagogo desonesto”. Douglas Holtz-Eakins, presidente do American Action Fórum e ex-assessor do republicano John McCain, e o deputado Richard Hanna romperam com o partido, por considerarem o bilionário despreparado para comandar o país. “Trump sempre esteve deslocado, pois ele nunca foi o queridinho dos republicanos”, diz Pedro Costa Jr., professor de Relações Internacionais da ESPM-SP. “A perda de apoio das empresas agrava ainda mais sua situação e é muito prejudicial à campanha, já que até o horário político na tevê é pago.” Trump tem dinheiro para gastar, é verdade. Mas seu capital político, a menos de 100 dias das eleições, está cada vez mais desgastado.