Um é desenvolvimentista e ficou com fama – injustificada, na sua própria avaliação – de gastador. O outro, encarregado de zelar pela moeda, fez de tudo para manter a inflação dentro da meta e teve de desacelerar o crescimento da economia em alguns momentos. 

 

Juntos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, administraram uma economia que cresceu em média 4% ao ano nos últimos oito anos, mantendo o poder de compra do real no plano doméstico e valorizando a moeda no plano internacional. São os cavaleiros da economia, unidos numa cruzada em prol do real e do crescimento, separados somente pelos instrumentos que defendem para chegar lá.

 

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O papel de Meirelles foi assumido logo no início do governo e fortalecido em 2004, quando ele conquistou o status de ministro e passou a responder diretamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

 

Na prática, ganhou autonomia para administrar as expectativas de inflação e mantê-la dentro da meta. Mantega herdou o cargo de António Palocci, que deixou o posto no início de 2006 com o escândalo da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. 

 

“O balanço da equipe econômica é muito positivo. Quando Lula assumiu esperava-se o caos, a fuga de capitais, e tivemos estabilidade macroeconômica e retomada de investimentos”, avalia o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília.

 

Foi Palocci quem abriu o caminho, prometendo manter o regime de metas de inflação, o superávit primário e a flutuação do real. Os resultados vieram já no ano seguinte, quando a economia cresceu 5,7%. 

 

Os anos posteriores foram mais fracos, mas um novo salto foi dado em 2007, com a expansão de 6,1%. Em 2008, alta de 5,1%. E aí veio a crise, que fez enormes estragos nos Estados Unidos e na Europa e secou a liquidez no mercado internacional. 

 

Surpreendentemente, foi quando a equipe deixou de lado a disputa – às vezes velada, às vezes explícita – entre os formuladores da política fiscal e da política monetária e se uniu nas medidas anticíclicas para minimizar os efeitos da crise financeira.

 

Deixando de lado rótulos como desenvolvimentista, fiscalista, heterodoxo, monetarista e a disputa por espaço dentro do governo, Mantega e Meirelles combinaram medidas que acabaram se mostrando um grande sucesso. 

 

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O Banco Central reduziu os juros, liberou empréstimos compulsórios para aumentar a liquidez do mercado e restabeleceu os financiamentos em dólar para empresas com dificuldade de captar recursos no Exterior. 

 

A Fazenda reduziu impostos, liberou recursos para o BNDES emprestar às empresas e determinou que os bancos públicos comprassem carteiras dos bancos menores e mantivessem suas linhas de financiamento abertas. Deu certo. 

 

As medidas de subsídio e renúncia fiscal custaram mais de R$ 30 bilhões, o equivalente a 1,2% do PIB, mas depois de seis meses de retração a economia voltou a crescer. 

 

“Saímos da crise com a cabeça erguida, fortalecidos, diferentemente de outras vezes, em que o Brasil saiu destroçado”, disse Mantega em setembro de 2009, um ano depois da quebra do Lehman Brothers. Neste ano, o crescimento de 7,5% na economia brasileira será o terceiro maior do mundo, depois de China e Índia.

 

Assim como nos dois países asiáticos, foi a demanda interna que puxou a expansão da economia. Nos últimos anos, ela cresceu sempre mais do que o PIB. Em 2010, deve aumentar 10,3%. É verdade que a ameaça da inflação voltou a rondar a economia brasileira.

 

Na gestão de Meirelles, que deixa o governo após um processo de fritura pública, mas mesmo assim conseguiu indicar o seu sucessor, Alexandre Tombini, o dólar caiu de R$ 3,52 em 1º de janeiro de 2003 para R$ 1,69 na semana passada. 

 

Apesar da reclamação dos exportadores, o real forte ajudou a controlar a inflação e aumentou o poder de compra dos brasileiros. A taxa básica de juros, que chegou a 26,5% nos primeiros meses de 2003 agora está em 10,75%, depois de chegar a 8,75% em 2008. 

 

Mantega também não entregou tudo o que prometeu. Não conseguiu baixar para zero o déficit nominal este ano, como planejava, mas, depois de um leve recuo em 2009, a relação dívida/PIB voltou a cair e a arrecadação aumentou. No cômputo geral, os responsáveis pela condução do País podem se considerar bem-sucedidos na defesa da economia.