27/04/2011 - 21:00
Nos últimos 20 anos, a catarinense WEG, de Jaraguá do Sul, se transformou em uma potência global do segmento de motores elétricos, com receita de R$ 5,1 bilhões. Atingiu este patamar, em boa medida, devido à disposição de seus controladores, os empresários Eggon João da Silva, Werner Voigt e Geraldo Werninghaus, de assumir desafios. Um deles foi a entrada na China, na década de 1990, quando o país asiático não passava de uma promessa. Hoje, a WEG possui fábricas e centros de distribuição espalhados por 22 países.
O sucesso da WEG garantiu os recursos necessários para que o trio se lançasse em um amplo processo de diversificação. Esses negócios, que inclui nomes como BR Foods, estão sob o guarda-chuva da recém-criada holding WPA, que possui um patrimônio estimado em quase R$ 2 bilhões (mais detalhes na página ao lado). No ano passado, os empresários, que desde 2003 controlam a fabricante de louças Oxford Porcelanas, colocaram em seu radar o setor de cristais, com a aquisição da Cristaleira Pomerana – uma das mais tradicionais fabricantes do País que se encontrava em uma situação pré-falimentar.
Na prateleira: Domingues, presidente da Oxford Porcelanas, pretende investir R$ 67 milhões para
ampliar a competitividade frente aos chineses e se firmar na liderança do setor
Instalada em Pomerode, cidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina , seu principal ativo é sua força de trabalho. “A produção da Cristaleira Pomerana é feita por artesãos e não por operários”, disse à DINHEIRO Volney Domingues, presidente da Oxford Porcelanas, divisão que incorporou a Cristaleira. “Trata-se de uma arte que estava sumindo e cujo resgate pode nos proporcionar um diferencial competitivo neste setor em escala global.”
Mais do que apenas adicionar uma empresa ao seu portfólio, o negócio tem por objetivo reforçar a musculatura da Oxford em um nicho que movimenta R$ 35 milhões por ano. Trata-se de um dos poucos redutos de itens de consumo no qual os chineses não atuam, porque os produtos são feitos ainda de forma artesanal. “Nossos concorrentes são os fabricantes da Áustria e da República Checa”, afirma Domingues.
Ganho artesanal: divisão de cristais da companhia catarinense deve responder por até 10% das vendas em 2011
A Oxford ocupa uma posição estratégica nas ambições dos controladores da WPA. A mesma tática usada para os cristais será estendida para as louças. Desde o início de 2010, o executivo vem realizando diversas mudanças no mix de produtos. Uma delas foi a inclusão de linhas de pratos e outros utensílios decorados com fios de ouro e prata, que são vendidos aos consumidores das classes A e B, a preços mais elevados do que as linhas tradicionais.
Com isso, Domingues espera ampliar a taxa de crescimento anual da companhia. A Oxford fechou 2010 com receitas de R$ 134 milhões, um avanço de 17% em relação ao ano anterior. A expectativa é avançar outros 23%, em 2011, aumentando o faturamento para R$ 165 milhões. Cerca de 10% desse valor deve ser obtido com a divisão de cristais. “A Oxford é uma empresa pequena que pretendemos transformar em uma potência”, diz Décio da Silva, filho de Eggon da Silva e presidente do Conselho de Administração da WEG.
De acordo com Domingues, estão programados investimentos de R$ 67 milhões para o período 2011-2015. Dessa bolada, cerca de R$ 20 milhões serão gastos com a compra de novas máquinas e a modernização do processo fabril da Cristaleira Pomerana. A Oxford espera também reforçar a liderança no mercado nacional de louças, do qual domina uma fatia de 40%, além de ampliar sua penetração no de cristais, no qual sua presença é ainda insignificante.
“O jeito brasileiro de produzir cristais ainda consome muita energia”, diz Domingues. “Somente nesse quesito poderemos fazer uma economia entre 30% e 40%.” Redução de custos é importante, especialmente no segmento de louças, no qual os chineses crescem a cada ano. Até porque, eles contam com vantagens consideradas irreais por fabricantes e consultores brasileiros. “O subsídio dado aos produtores daquele país inclui os insumos da produção e também os incentivos à exportação”, afirma Roberto Kanitz, consultor de comércio internacional da Uno Trade. “É uma luta desigual”.