29/01/2016 - 20:00
No começo deste ano, o time do Corinthians foi desmantelado por uma onda vermelha que veio da China. Os meio-campistas Renato Augusto e Ralf foram contratados pelo Beijing Guoan. O zagueiro Gil transferiu-se para o Shandong Luneng, dirigido pelo técnico Mano Menezes. O atacante Jadson foi parar no Tianjin Quanjian, da segunda divisão, comandado por Vanderlei Luxemburgo. Em comum nessas transações são os valores exorbitantes pagos para levar os craques brasileiros para os gramados chineses. Todos foram recebendo salários milionários, que, em alguns casos, ultrapassam os R$ 2,2 milhões por mês, livre de impostos, como o caso de Renato Augusto – é mais do que ganha Neymar, no Barcelona.
O que explica essa voracidade dos clubes chineses? Afinal, o futebol está para a China, assim como o tênis de mesa está para o Brasil: são esportes sem tradição em seus respectivos países. Uma das respostas para essa expansão reside em Xi Jinping, presidente do país, um aficionado pelo nobre esporte bretão, que tornou obrigatório o esporte nas escolas chinesas. Ele acalenta o sonho de a China sediar e ganhar um mundial. Por esse motivo, incentivo é o que não falta para o crescimento do esporte. Quem investe no futebol pode ter descontos de 15% a 25% no Imposto de Renda. Para se ter uma ideia, quem apoia a cultura só pode abater 3% do IR.
Por essa razão, os 16 times que disputam a primeira divisão chinesa, a Superliga, contam com o apoio em peso de empresas. O atual campeão, o Ghangzhou Evergrande, dirigido pelo ex-técnico da Seleção Brasileira Luis Felipe Scolari, o Felipão, pertence à empreiteira Evergrande, uma das dez maiores do país, e ao site de comércio eletrônico Alibaba, cujo dono é Jack Ma, o homem mais rico da China, cuja fortuna é estimada em US$ 27,2 bilhões. As estatais também são forte aliadas do futebol chinês. O Shandong Leng, para onde se transferiu Gil, é da empresa de energia State Grid, a terceira maior da China, com faturamento de US$ 333 bilhões – é ela quem está construindo as linhas de transmissão da Usina Belo Monte, no Brasil.
A lista de empresas donos de clubes da primeira divisão inclui ainda a montadora de carros Lifan, que é proprietária do Chongqing Lifan. A fabricante, inclusive, exporta carros para o Brasil. Uma rede de shopping centers, a Renhe Commercial, da bilionária Xiu Li Hawken, comanda o Guizhou Renhe. E a operadora de Xangai controla o Shangai SIPG. Mas até na segunda divisão os magnatas chineses estão expandindo seus tentáculos. O Tianjin Quanjian, de Luxemburgo, foi comprado pelo empresário Shu Yuhui, do Quanjian Group, que atua na área de saúde. Yuhui é dono de uma das maiores redes de hospitais da China e também comercializa cosméticos de beleza e remédios.
O mercado de capitais também tem sido usado para financiar o avanço do dragão chinês. No começo de janeiro, o clube Ghangzhou Evergrande levantou 869,4 milhões de yuans (US$ 132 milhões) através da emissão de ações no mercado do Sistema Nacional de Transação e Cotação de Valores da China. Outro dado surpreendente são os valores pagos para transmitir o campeonato chinês. No final do ano passado, a Ti’ao Power venceu a concorrência pelos direitos de transmissão dos jogos da Superliga das próximas cinco temporadas ao preço de 8 bilhões de yuans, o equivalente a US$ 1,25 bilhão ou R$ 5,1 bilhões, uma média de mais de R$ 1 bilhão por temporada. Para efeito de comparação, as cotas de tevê do campeonato brasileiro são estimadas em R$ 1,1 bilhão por temporada.