A JAC Motors do Brasil agora é dos chineses da JAC. Isso mesmo, você não leu errado. A montadora chinesa, que chegou ao Brasil pelas mãos do empresário brasileiro Sérgio Habib, do grupo SHC, em 2011, está assumindo a construção de uma fábrica de carros em Camaçari, na Bahia, com capacidade para produzir 100 mil veículos por ano. Habib, que deveria erguer a unidade industrial, ficará agora com uma fatia de 34% e responsável pela estrutura comercial da marca. A mudança ocorreu após o atraso das obras com a dificuldade em obter licenças ambientais e linhas de financiamento para o início da construção. 

 

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Sérgio Habib, presidente da JAC Motors do Brasil

 

Com isso, a JAC resolveu tomar a frente e vai investir R$ 660 milhões do R$ 1 bilhão previsto para colocar a unidade industrial em operação. “A JAC se sente mais confortável em assumir maior parte dos investimentos para acelerar a obra”, diz o empresário. “A companhia tem em caixa US$ 1,5 bilhão para isso. Será mais fácil do que irmos ao mercado para obter financiamento.” Quando anunciou a fábrica, em 2012, logo depois do governo federal baixar a norma de aumento de 30 pontos percentuais na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nos carros importados fora da Argentina e México, Habib estava confiante na obtenção de linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

 

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Mudança de planos: a fábrica de Camaçari, anunciada em 2013, seria a primeira

de Habib. Faltou dinheiro

 

O dinheiro não veio. “Os chineses agora vão investir com recursos próprios”, diz Habib. “Desistimos do BNDES.” Segundo ele, o grupo SHC vai conseguir financiamento junto ao banco de fomento da Bahia, o Desenbahia, e à Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), no valor de R$ 110 milhões, para dar início à construção da fábrica. O empresário afirma que os recursos estão em fase final de aprovação e deverão ser liberados em no máximo 60 dias. “Por conta disso, estamos já licitando a construtora para colocar a fábrica de pé”, diz Habib. A operação será iniciada em meados de 2015. 

 

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Queda brusca: com a alta do IPI, as vendas despencaram de 38 mil, em 2011, para 16 mil

 

Trata-se de mais um revés na estratégia do empresário, que também foi responsável pelo lançamento dos carros da marca francesa Citroën no Brasil. Na época, a meta era vender 35 mil veículos nos primeiros 12 meses. Em dois anos, o plano previa a conquista de uma fatia de 3% do mercado nacional. Com o aumento do IPI e da concorrência, a JAC ficou bem longe, bem longe dessa projeção. Em 2013, a fabricante chinesa vendeu 16 mil carros, o que lhe garantiu pífio 0,5% de participação de mercado. “Nosso objetivo agora é vender 60 mil carros no segundo ano de operação da nossa fábrica”, diz Habib. “Não temos condições de chegar a 3%.” 

 

A estimativa de Habib, no entanto, pode esbarrar na confiança do consumidor. Com o atraso nas obras da fábrica, segundo o diretor da In Search Consultoria, Fábio Mariano, a imagem da JAC será afetada no mercado. “A questão é quanto será.” Para o consultor, a empresa terá de mostrar toda a sua habilidade para informar aos clientes que isso é um fato ocasional e que não afetará os planos para o Brasil. “Seis meses de atraso não mudam a confiança do consumidor”, diz Habib. “Nesse tipo de empreendimento é muito difícil adiantar a obra.” A JAC deve vender, segundo o empresário, 16 mil carros este ano, o mesmo patamar alcançado em 2013.

 

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