Em boa parte do mercado financeiro mundial, vale a seguinte máxima: quem corre os maiores riscos, ganha os maiores retornos. Mas essa regra não vale por aqui. No Brasil, o país dos juros altos, um investidor que tivesse investido em títulos de renda fixa locais em fevereiro de 2009 – portanto, logo após a crise do subprime nos EUA – teria ganho 10,8% ao ano, em média, até o início deste mês. Já quem investiu em ações na Bovespa, diretamente ou por meio de fundos, ganhou meros 3,9% ao ano. Além do ganho magro, esse desempenho foi sujeito a pancadas comparáveis ao “jab” de 90 quilos do recém falecido pugilista Muhammad Ali. Nos mesmos sete anos, nos Estados Unidos, quem investiu em ações  por lá ganhou 16,2% ao ano. E quem optou pela renda fixa viu seu patrimônio crescer apenas 0,3% ao ano, perdendo feio até da baixa inflação americana.

Os trabalhos de três laureados com o Prêmio Nobel de Economia entre os anos 1980 e 1990 – Willian Sharpe, James Tobin e Harry Markowitz – concluíram que o modelo ideal de investimento é aquele que distribui os recursos entre renda fixa e ações. No Brasil, isso não funciona, porque os juros pagos pelo governo são elevados. Atualmente em 14,25% ao ano, em comparação com as taxas próximas de zero nos Estados Unidos, a taxa Selic, que serve de referência para as aplicações financeiras, é uma das mais altas do mundo. E nada indica que isso vai mudar, apesar dos prognósticos de afrouxamento dos juros pelo Banco Central nos próximos meses. “Essa redução, quando ocorrer, será gradual, e as perdas na rentabilidade da renda fixa serão mínimas”, diz Flávio Conde, analista da empresa de consultoria de renda variável WhatsCall. A recomendação dos especialistas, portanto, é manter seu dinheiro longe dos ringues.

No entanto, mesmo esse sossego requer que o investidor não baixe a guarda contra a inflação brasileira e eventuais solavancos decorrentes desse movimento de redução da Selic. Uma das estratégias que continua valendo é optar por aplicações prefixadas de prazo mais longo, que preservarão o prêmio dos juros altos por mais tempo – vale conferir os CDBs e os títulos públicos negociados no Tesouro Direto, como as Letras do Tesouro Nacional. Em meados de junho, estas rendiam até 13,75% ao ano para aplicações vincendas em 2017. No entanto, para não ser derrotado por pontos, o investidor tem de estar atento ao soar do gongo. “Um erro muito comum é o investidor não se planejar e resgatar os recursos antes do vencimento, abrindo mão da rentabilidade”, diz Walter Maciel, CEO da gestora AZQuest.

A distorção dos juros fez com que as aplicações de renda fixa, no Brasil, concentrassem quase 75% dos R$ 3 trilhões investidos, considerando-se CDBs, fundos e títulos imobiliários e do agronegócio. Já a fatia das ações é de apenas 4,6%, segundo um relatório da consultoria de investimentos Eleven Financial. Gustav Gorske, economista chefe da Eleven, diz acreditar, porém, que isso pode mudar. A fatia dos fundos de ações pode voltar aos 9% de 2012, diz ele, se os juros caírem. “Taxas mais baixas, aumento da confiança e expectativa de retomada de crescimento podem recolocar os fundos de ações em uma espiral de crescimento”, afirma.

Maciel, da AZQuest, também demonstra otimismo. Para ele, isso deve ocorrer quando a taxa de juros estiver ao redor de 9% ao ano. “Qualquer negócio hoje tem que render acima de 15% ao ano, e é impossível. Com juros mais baixos, o apetite pelo risco volta.” Para ele, as ações estão baratas. Ele traça um paralelo com a Argentina, que elegeu Maurício Macri em novembro do ano passado. “Quem investiu na Bolsa da Argentina um ano antes da eleição do Macri não ganhou nada, porque a mudança do governo já estava precificada”, diz ele. “Mas quem arriscou e investiu três anos antes ganhou até 400%, e eu acho que isso vai se repetir no Brasil.”

Mauro Calil, especialista em investimento da Ourinvest, prevê que o crescimento sustentável do mercado acionário brasileiro levará mais tempo e não vai depender apenas da queda dos juros. “Há outros fatores, como a redução do endividamento do governo e a retomada do consumo”, diz ele. Segundo Calil, se não houver a criação de um ambiente favorável ao empreendedor, o crescimento terá fôlego para poucos rounds.