Na montanha-russa que simboliza os altos e baixos da história do parque de diversões Hopi Hari, em Itupeva, no interior de São Paulo, a queda parece não ter fim desde que um acidente fatal causou a morte de uma garota de 14 anos, em 2012, no brinquedo La Tour Eiffel, um elevador que despenca em velocidade. A tragédia afugentou os visitantes e afetou seu faturamento. Poucos meses antes, os controladores do parque na época, que haviam comprado a empresa em 2009 do fundo GP Investiments por R$ 0,01, mais as dívidas, haviam desistido de vendê-la a um grupo chileno e investiram em uma nova montanha-russa.

Pouco tempo depois, o Hopi Hari mudou de dono mais uma vez, ficando nas mãos do empresário Luciano Correa, ex-GP. Agora, o parque de diversões pode estar se aproximando do ponto mais perigoso de sua jornada. Na terça-feira 12, o empresário Cesar Federmann, dono de terrenos e de um complexo comercial no entorno do parque e sócio do polo turístico Serra Azul, que inclui o próprio Hopi Hari, o parque aquático Wet’n Wild, um hotel e um empreendimento imobiliário, pediu a falência da companhia por conta de uma dívida de R$ 4,3 milhões.

O valor é referente a um empréstimo feito em dezembro de 2014 e que venceria em abril. Com a correção monetária, a estimativa é de que o montante chegaria a R$ 5,9 milhões. O Hopi Hari estaria também atrasando pagamentos a fornecedores, uma dívida que somaria R$ 2 milhões neste momento. E ainda precisa honrar um empréstimo do BNDES, que chegou a R$ 193 milhões, incluindo as multas, em setembro do ano passado. Os atuais administradores da empresa, que não concederam entrevista, teriam tomado conhecimento do pedido de falência por meio de notícias da imprensa e reclamavam que estavam surpresos com a decisão de Federmann, já que as negociações estavam abertas.

Por meio de comunicado oficial, a empresa alegou que não recebeu nenhum pedido de falência. “A tentativa de protestar o pretenso crédito de Cesar Federmann foi suspensa em 12 de janeiro de 2016, por decisão do Juízo da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo, onde tramita demanda judicial envolvendo os negócios jurídicos entre as partes”, diz o comunicado. Os credores contestam a informação e alegam que o pedido de falência foi feito na Vara Cível da Comarca de Vinhedo, cidade vizinha a Itupeva.

Na sexta-feira, um novo capítulo da briga foi deflagrado, com o encaminhamento do pedido de busca e apreensão da montanha-russa comprada em 2011, e que até hoje não foi montada. Para tornar as coisas mais complexas, há reclamações de que a administração da empresa foi alterada em 2015. Em maio, o Hopi Hari informou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que o conselho de administração da empresa passaria a ser formado, junto com Correa, pelo empresário Sérgio Loureiro Valente e por seu advogado, Adailson Ferreira dos Santos, depois de ter recebido um investimento de R$ 20 milhões.

Dois meses depois, Valente, que organiza rodeios em Goiás e que foi candidato a vice-prefeito da cidade de Cachoeira Dourada (GO), em 2012, pelo Partido Verde, foi alçado à presidência do conselho. Os credores alegam que, na prática, a partir daí, as negociações e todas as decisões passaram a ser de Valente – que teria uma opção de compra de 66% da empresa –, em um movimento que não teria sido informado à CVM e ao BNDES, o qual o Hopi Hari nega.

Uma fonte próxima da empresa informa que todas as mudanças foram devidamente informadas à CVM. De qualquer forma, a passagem do empresário foi curta. No dia 2 de setembro, um novo comunicado foi divulgado. Dessa vez, Valente e Santos eram destituídos do conselho, depois de menos de quatro meses na posição. No meio de toda essa confusão, agora cabe a Correa encontrar uma forma de dar uma guinada na descida sem fim da empresa. Sem isso, as sensações de vertigem e de insegurança serão as únicas lembranca de frequentadores e investidores.