21/10/2019 - 8:00
Processos de disrupção costumam provocar modificações equivalentes a de um tsunâmi nos segmentos econômicos atingidos. E a temporada atual tem no universo das leis seu novo eleito. Uma boa amostra é a Fenalaw 2019, plataforma de conteúdos e negócios jurídicos que acontecerá entre os dias 23 e 25, em São Paulo. No evento, 40% dos espaços de exposição serão ocupados por startups do mundo do direito. “Há cada vez mais ferramentas potentes para coleta e análise do alto volume de informações geradas na área”, diz Hermano Pinto, diretor de portfólio da Informa Markets, empresa global que organiza a Fenalaw. Isso significa a automação numa escala nunca vista dos processos jurídicos, com impacto significativo também na qualidade dos resultados. Máquinas fazem mais. E em muitos casos fazem melhor.
A escalada de respostas tecnológicas para os advogados fez explodir a quantidade de startups reunidas sob a Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L). Criada em 2017, o número de associados saltou de 20 para 422. Seu diretor executivo, Daniel Marques, diz que “as lawtechs surgiram para gerar ganhos de eficiência na gestão dos processos, deixando mais tempo para o advogado focar no cliente”. A advogada Alessandra Borelli, diretora executiva da Opice Blum Academy e palestrante da Fenalaw, concorda: “Não há mais como esperar, a advocacia 4.0 já é uma realidade” afirma.
A vantagem de softwares avançados de análise de dados pode, no entanto, causar distorção. Do ponto de vista teórico é possível estabelecer algoritmos para construir peças jurídicas de acordo com uma série histórica de decisões de determinados juízes, por exemplo. Seria um tipo de vantagem que grandes empresas ou parrudos escritórios de advocacia teriam sobre oponentes com menos recursos. Hermano, da Fenalaw, não crê nessa distorção. “Startups conseguem desenvolver inovações reduzindo custos, o que faria o acesso a esse tipo de solução ser diluído”, afirma.
ENGENHEIRO JURÍDICO A junção de tecnologia e mundo jurídico é fenômeno global. Pesquisa da Zion Market diz que o segmento de Inteligência Artificial (IA) aplicada ao campo da advocacia foi de US$ 3,2 bilhões, no ano passado, e chegará a US$ 37,8 bilhões, em 2026. Esse ambiente já deu nome a um novo profissional no mercado americano, o ‘engenheiro jurídico’. Conhecimento das leis não bastará. Gerenciar e analisar dados de IA e atuar com soluções de blockchain são cada vez mais parte do dia a dia da profissão.