O empresário Eike Batista convocou uma teleconferência na segunda-feira 18. A intenção era comemorar o relatório da consultoria americana DeGolyer & MacNaughton (D&M), que elevou de 6,7 bilhões para 10,8 bilhões de barris as reservas de petróleo potenciais da OGX, principal empresa do mundo X. 

No entanto, o que era para ser mais um fato relevante na vida empresarial de Batista acabou se transformando na maior turbulência já envolvendo seus negócios. Os analistas prestaram pouca atenção ao aumento nas reservas potenciais e se concentraram no emagrecimento de outro indicador, o das reservas contingentes, que são estatisticamente mais prováveis do que as potenciais, e que encolheram de quatro para três bilhões de barris. 

 

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O mercado, que começara o dia nervoso, devido à possibilidade de um rebaixamento da classificação de risco da dívida dos Estados Unidos, interpretou o relatório como uma prova de que a empresa tem menos petróleo do que anunciava, e não mais. Foi o suficiente para uma enxurrada de venda das ações, que fez desabar os preços. Ao fim do dia, as cotações haviam caído mais de 17% e o valor de mercado da petrolífera encolheu em R$ 10,9 bilhões. 

 

A baixa contaminou outras companhias do grupo, que caíram 1,8% a 5,6%. O mau humor foi tão forte que afetou as novas companhias de petróleo listadas na Bovespa, mesmo que elas não tenham nenhuma relação com o X da questão. Na ponta do lápis, o valor de mercado das seis empresas listadas do empresário encolheu R$ 12 bilhões. Batista viu seu patrimônio pessoal encolher US$ 3 bilhões, algo que, segundo ele, não o preocupa.

 

Os analistas de mercado não chegaram a um consenso sobre a pesquisa. “Classificamos como positivo o novo relatório elaborado pela D&M, que reforça nossa recomendação de compra”, escreveu o analista Luiz Broad, da corretora Ágora, mantendo o preço-alvo em R$ 37,40. Já Marcus Sequeira, do Deutsche, rebaixou a recomendação para “manter” e reduziu o preço-alvo de R$ 28 para R$ 23. O banco BTG Pactual foi outro a revisar para baixo a recomendação para os papéis, mudando de “compra” para “neutro”, e baixou o preço-alvo de R$ 27,63 para R$ 21,63.

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Essa indefinição mereceu pesadas críticas de Batista. “Os analistas não tiveram competência para analisar os dados”, disse ele em entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Tenho pena dos pequenos investidores que venderam com base nessas recomendações. Eles perderam dinheiro porque confiaram nos analistas, como os pacientes confiam em seus médicos.” 

 

Batista ameaçou reclamar pessoalmente junto aos dirigentes dos bancos cujos analistas divulgaram recomendações de venda. Uma prova da imprecisão das recomendações de venda, afirma ele, foi o fato de as ações terem subido 4,5% no dia seguinte à queda. “Essas pessoas não sabem o que estão fazendo.”

 

Críticas à parte, como explicar uma oscilação tão brusca? Reação exagerada ou o fim de uma prolongada lua de mel entre o mercado e a petrolífera, que abriu capital em 2009? Na verdade, boa parte desses solavancos é causada pelo perfil da OGX. Como a maior parte das empresas de Batista (à exceção da mineradora MMX, que já é um negócio consolidado), a petrolífera, cujo faturamento é zero, ainda está em estágio pré-operacional. Seus investidores apostaram muito dinheiro em um plano de negócios. 

 

Apesar de o empresário avaliar as reservas em 30 bilhões de barris, a companhia ainda não produziu uma gota de petróleo comercial, algo previsto apenas para outubro deste ano. “Dizer que a OGX não tem valor é tão errado quanto dizer que ela não tem riscos”, diz Clodoir Vieira, economista-chefe da corretora Souza Barros. “Ela não é uma empresa de papel, mas há uma considerável dose de incerteza.” 

 

É hora de comprar? Vieira diz que a queda da segunda-feira abriu uma oportunidade de compra – quem arriscou, embolsou um ganho de mais de 4% em um só dia – mas a OGX não vai deixar de ser uma ação recomendada apenas para quem tem nervos de aço, como os investidores que procuram ganhar comprando e vendendo rapidamente. “Esse é um papel movido basicamente a expectativas”, diz Vieira. 

 

 

“Vamos ver quem vai rir por último”

 

O empresário Eike Batista falou à DINHEIRO sobre as perdas das ações do Grupo EBX na semana passada. Confira:

 

Quanto o sr. perdeu?

Meu patrimônio encolheu de US$ 35 bilhões para US$ 32 bilhões. Não dá para dizer que essa foi a perda, porque as ações subiram no dia seguinte.

 

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Qual é a sensação de ver seu dinheiro encolher tanto?

Faz parte do dia a dia do mercado. E ainda é mais que os US$ 30 bilhões da revista Forbes (risos). 

 

Como explica a queda?

Os investidores venderam porque foram mal informados, venderam porque havia um papel carimbado por um analista dizendo “venda”.

 

Faltou informação aos analistas? 

O que faltou foi competência. Eles não entenderam a história. Vou conversar com os dirigentes dos bancos, cujos analistas recomendaram a venda das nossas ações. Vou perguntar “como um profissional supostamente competente divulga informações erradas?”

 

É possível reverter a visão dos analistas?

Nessas horas, só citando Jesus Cristo: conheça a verdade, pois a verdade vos libertará. Os bancos adoram volatilidade, mas vamos ver os dados da OGX e analisar os resultados daqui a algum tempo. Vamos ver quem vai rir por último.

 

O sr. concorda com a avaliação da DeGolyer & MacNaughton, que alterou as estimativas das reservas da OGX? 

Essa consultoria é a mais conservadora do mundo e partiu de dados antigos. Considerou nossa situação em 31 de dezembro. Desde então, já perfuramos mais 15 poços de petróleo na Bacia de Campos. A consultoria considerou um índice de recuperação de 25%, que é um dado de 30 anos atrás. Hoje, o índice é de 44%.

 

O que esse índice significa?

Que, há 30 anos, uma empresa que descobrisse 1 bilhão de barris poderia extrair 250 milhões. Hoje, ela conseguiria extrair 440 milhões. Ninguém entendeu quando a DeGoyler, que nós contratamos, disse que nossas reservas subiram de 6,7 bilhões para 10,8 bilhões de barris.

 

Esse é o potencial total?

Não, esse é o potencial “extraível”. O potencial total, e essa conta ninguém fez, é de 30 bilhões de barris. As condições em que trabalhamos são excepcionais. Nosso óleo é mais barato de extrair e tem menos elementos contaminantes, ou seja, vale mais no mercado. Nosso custo de extração é de US$ 16 por barril, bem abaixo do da Petrobras, porque ela opera em águas ultraprofundas.

 

Quando a OGX irá produzir?

Já estamos em teste de longa duração e devemos começar a produzir em outubro deste ano.