08/12/2010 - 21:00
Em 2001, a carioca Óbvio! anunciou o seu projeto de minicarro em versões triflex (para rodar com álcool, gasolina e GNV). Em 2005, sem ainda conseguir colocar o carrinho nas ruas das cidades brasileiras, a empresa fez um novo anúncio: negociava a venda do modelo nos Estados Unidos, através da ZAP, uma empresa californiana. Em novembro de 2010, sem ter desembarcado no mercado americano (por problema com o fornecedor de motores), a empresa tirou da cartola um novo coelho: apresentou o primeiro carro compacto elétrico híbrido brasileiro, uma versão do modelo de 2005.
Machado, o CEO: ele admite que a produção ainda depende da questão tributária
A apresentação foi feita na presença de executivos ingleses, do cônsul-geral britânico em São Paulo, John Doddrell, do embaixador britânico no país, Alan Charlton, e das estrelas da Fórmula 1 Bernie Ecclestone e Jackie Stewart, além de outros convidados do consulado britânico em São Paulo.
O Óbvio! 828H, versão elétrica, foi desenvolvido por engenheiros brasileiros e profissionais da Lotus Engineering (a mesma que construiu os bólidos de F-1 pilotados por Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna), numa parceria orquestrada pelo UK T&I – Trade & Investment, órgão do governo britânico.
A parceria entre a nova Óbvio! com o grupo de investimento inglês Capadoccia, anunciada em julho, permite crer que o simpático carrinho possa mesmo estar mesmo circulando pelas ruas das cidades brasileiras em breve. “Queremos começar a produzi-lo já em 2011. Serão três modelos: de 70 HP, 140 HP e 200 HP”, diz Ricardo Machado, presidente da Óbvio!. Os preços? De R$ 150 a R$ 200 mil.
Mas não parece tão fácil assim. Pessoas do mercado olham para o projeto com certo ceticismo. O diretor-presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos, Pietro Erber, diz não conhecer detalhes do projeto. “Não existe produção de carros de passeio elétricos no Brasil, infelizmente.
Já ouvi falar do Óbvio!, mas pouco sei sobre esse projeto”, afirma Erber. André Beer, dono da consultoria André Beer Consult e Associados, ex-vice-presidente da GM e ex-presidente da Anfavea, atuante no mercado há mais de 50 anos, acredita que um projeto de carro brasileiro só funcionaria no mercado de luxo, porque o preço do produto final, para compensar o custo, deve ser alto.
“Produzir carro é muito caro e o mercado é extremamente competitivo. Só vale a pena se o volume da produção for alto e o preço ao consumidor for baixo. Se o volume da produção é pequeno o preço tem que subir”, diz Beer. “Sempre desaconselhei a produção nacional de carros que não fossem diferenciados, de preferência grandes e focados nos consumidores de alto poder aquisitivo.”
Outro empecilho que pode atrapalhar os planos do Óbvio! é a questão tributária. Quando perguntado sobre a data prevista para o minicarro chegar às lojas, o próprio Machado argumenta que essa decisão está nas mãos do governo brasileiro.
“Estamos aguardando a decisão do governo sobre o valor do IPI para veículos híbridos, para iniciarmos a produção. Se o governo não recuar no valor de 25%, vamos transferir a produção para o México”, revela ele.
Tramita no Senado um projeto de lei do senador Roberto Cavalcanti, do PRB da Paraíba, que concede isenção do IPI para veículos híbridos movidos a energia elétrica, biocombustível e para carros totalmente elétricos. Se a operação vingar no Brasil, a fábrica será instalada numa cidade do Estado do Rio de Janeiro.
Além de fabricar o Óbvio! 828H, a empresa pretende também fazer a conversão de outros modelos de carros, caminhões, ônibus e vans. “O Brasil tem que acordar para essas novas tecnologias e produtos que utilizam energia renovável, porque temos as maiores e melhores matrizes do mundo. Só que não se usa de forma inteligente essa energia”, diz o CEO.
Se realmente sair do papel, o Óbvio! chegaria ao mercado de forma inusitada, segundo o presidente. “Empresas de energia nos procuraram. A ideia é oferecer o carro para ser adquirido em 80 prestações na conta de luz.
Isso vai inaugurar um novo modelo de negócio”, diz o presidente da Óbvio!, sem revelar que empresas de energia seriam essas. Difícil seria convencer alguém a pagar mais de R$ 2 mil por mês na conta de luz.