03/10/2014 - 20:00
Doze anos depois de deflagrado, chegou ao fim um dos mais longevos contenciosos envolvendo Brasil e Estados Unidos. A paz no campo foi sacramentada pelo acordo firmado pelos ministros da Agricultura dos dois países – o brasileiro Neri Geller e seu colega americano Tom Vilsack–, emWashington, na quarta-feira 1º. A guerra do algodão, como ficou conhecida a contenda entre os produtores dos dois países na Organização Mundial do Comércio (OMC), teve início quando o Brasil contestou os subsídios do governo americano aos seus produtores.
O pleito brasileiro foi vitorioso, mas os americanos se recusaram a cumprir os acordos propostos. Como compensação, o País poderia retaliar em quase US$ 1 bilhão as importações de produtos caros aos americanos, como aviões e remédios. No entanto, esse caminho contrariava os interesses econômicos do governo. “Um acordo em que as duas partes resolvem um contencioso vai ser sempre uma solução melhor do que ficar com uma demanda jurídica eterna”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, ao final da reunião.
O governo do presidente Barack Obama concordou em depositar US$ 300 milhões, que serão transferidos até o próximo dia 21, para o Instituto Brasileiro do Algodão. O dinheiro poderá ser usado para realizar melhorias na infraestrutura logística ou em pesquisas biotecnológicas, medidas que estavam vetadas enquanto a decisão da OMC não fosse cumprida. “É uma grande vitória para os produtores brasileiros, que tiveram um benefício diretamente revertido para eles”, afirma Cynthia Kramer, especialista em comércio internacional do escritório L.O.Baptista, de São Paulo.
Com o pagamento, o Brasil se comprometeu a não questionar até 2018 a nova lei agrícola americana, aprovada neste ano. Se o encontro tivesse sido frustrado, o escritório Barral M Jorge Consultores, de Brasília, que foi contratado pelos produtores brasileiros, já estava com a documentação pronta para dar início a um novo processo na OMC. “Esse era o maior contencioso entre Brasil e EUA e abre uma nova fase na relação entre os países”, diz Welber Barral.
O algodão brasileiro saiu fortalecido, mas o mais importante é destravar a agenda de discussões comerciais. A falta de solução para essa disputa de 12 anos adiou discussões em outros setores. “Os países deram um passo significativo no relacionamento econômico bilateral”, disse o embaixador Michael Froman, representante do comércio dos EUA. Quem sabe, agora, vira-se a página da espionagem americana sobre a presidenta Dilma Rousseff e a Petrobras e abrem-se as portas do diálogo para o tão sonhado tratado de livre comércio entre o Brasil e os EUA.