Com 60% dos votos, contra 25% do oposicionista Samuel Doria Medina, o líder indígena Evo Morales foi reeleito no domingo 12 para o seu terceiro mandato na Presidência da Bolívia. Ficará até 2020. Além de seu conhecido discurso nacionalista, Morales manteve o poder graças aos bons indicadores econômicos e sociais. Ele conseguiu triplicar de US$ 9,5 bilhões para US$ 30,3 bilhões o PIB da Bolívia, desde 2005, quando se instalou pela primeira vez no Palácio Quemado. A extrema pobreza caiu de 39% para 18% e, segundo o FMI, o país crescerá 5,2% neste ano e 5% em 2015.

Como tal prosperidade depende diretamente da venda de gás para o Brasil, que movimentou US$ 3,3 bilhões no ano passado, as autoridades bolivianas estão preocupadas com o pibinho e o distanciamento político do governo Dilma Rousseff. Após anos dourados de relacionamento com o ex-presidente Lula, a afinidade entre as nações vem diminuindo desde 2006, quando Morales estatizou duas refinarias da Petrobras. O laço só não foi definitivamente rompido devido aos contratos comerciais envolvendo a importação de gás natural boliviano. Mesmo após o episódio das refinarias, Lula se esforçou para manter uma relação próxima e amigável com os bolivianos.

Segundo o Itamaraty, durante os oito anos em que governou o Brasil, Lula realizou nove visitas oficiais à Bolívia. Já Dilma Rousseff nunca pisou em solo boliviano, pelo menos como presidente. No ano passado, a fuga de um senador boliviano, condenado à prisão, que recebera abrigo na embaixada brasileira, gerou uma crise diplomática. Em recente entrevista, Morales declarou ter sentido falta de um encontro com a presidenta, mas afirmou que entende as particularidades de cada governante e que confia em Dilma. Para o ex-ministro das Relações Exteriores Rubens Barbosa, o Brasil deve estreitar laços com todos os países da América do Sul.

“No caso da Bolívia, devemos avaliar os contratos de gás e reforçar o combate ao tráfico de drogas”, diz. O gás natural correspondeu, em 2013, a 97,8% do intercâmbio comercial entre os dois países. Um levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura mostra que, no ano passado, o mercado brasileiro consumiu 31,8 milhões de metros cúbicos/dia do produto boliviano, o equivalente a 60% de toda a produção exportada pelo país vizinho.

O contrato vai até 2019, mas o Brasil quer reduzir essa dependência. Na avaliação do presidente da Câmara de Indústria e Comércio Brasil-Bolívia, Elio Galarza Garcia, as diferenças devem ser relegadas a um segundo plano, em favor das relações comerciais. “Independentemente de todos os fatos ocorridos, os países precisam preservar o díálogo, pois o saldo será positivo para os dois”, diz ele. Por via das dúvidas, o presidente reeleito Morales está de punhos cerrados.