01/04/2016 - 20:00
Aos 28 anos, o gerente de projetos da emissora de tevê a cabo Sky, Petar Langbajn Neto, decidiu sair da casa dos pais. Após três meses de pesquisa em sites de classificados, ele desistiu por causa do valor e da complicação para assinar um contrato de aluguel. Mas em fevereiro desse ano, ele voltou à busca e conseguiu rapidamente achar um local para morar. “Em três dias, aluguei um apartamento com valor 20% menor que a média dos que pesquisei”, diz Langbajn Neto. “Não tive custo, não fui obrigado a ir ao cartório.”
Langbajn Neto é um dos milhares de consumidores que estão alugando apartamentos por meio da startup brasileira QuintoAndar, uma imobiliária completamente online, que está sendo chamada de o Uber dos aluguéis. Assim como a polêmica startup dos carros pretos, o QuintoAndar está inovando em um setor tradicional. Primeiro, porque arca com o custo do seguro fiança. E, segundo, porque usa os conceitos da chamada economia do compartilhamento.
Corretores, por exemplo, podem se cadastrar diretamente no site, que depois escolhe aqueles podem atuar na startup, assim como o Uber seleciona os motoristas. Atualmente, são 50 deles, que recebem uma ajuda de custo mais um porcentual por negócio fechado, e existe ainda uma fila de 1,4 mil interessados. Tudo pode ser feito digitalmente, até a visita é agendada online. Depois de fechado o negócio, o contrato pode ser assinado com certificados digitais, que garantem a transação e torna o processo mais rápido.
“Não gastamos com loja bonita em esquina movimentada, a gente aloca dinheiro para investir em tecnologia e no seguro fiança”, diz Gabriel Braga, CEO do QuintoAndar, que já mudou de casa sete vezes. O empreendedor mineiro fundou o QuintoAndar em conjunto com o conterrâneo André Penha. Os dois se conheceram durante o período em que realizaram um MBA na Stanford University, berço de Google e Yahoo!,no Vale do Silício, na Califórnia. Incentivados a pensar em áreas com pouca inovação tecnológica com o intuito de abrir uma empresa, eles acharam a resposta no dormitório da universidade.
“Era um domingo e estávamos pensando em tanta coisa que não funciona direito”, afirma Braga. “Concluímos que, no Brasil, o que deixa as pessoas mais irritadas e frustradas é alugar um imóvel.” Esse foi o embrião do QuintoAndar, que nasceu em 2013, um ano depois da dupla de empreendedores deixar os Estados Unidos. A startup hoje conta com um estoque de 1,5 mil imóveis para alugar em São Paulo e Campinas, onde tem operações. Mas o plano é ir para outras capitais até o fim deste ano.
A expansão acontecerá com os US$ 7 milhões que recebeu, em 2015, da Kaszek Ventures, fundo de venture capital latino-americano, que já fez aportes nas brasileiras Nubank, VivaReal e Netshoes. Atualmente, o QuintoAndar tem fechado cerca de mil contratos de aluguéis por mês. Sua fonte de receita segue o modelo de uma imobiliária convencional. Ela cobra do proprietário 100% do primeiro aluguel e uma taxa de administração de 8% sobre os pagamentos seguintes. Além de toda a tecnologia, a startup apostou na gratuidade do seguro fiança, em uma parceria com a seguradora francesa Cardif. Trate-se de um risco calculado.
A sinistralidade desse tipo de seguro é bem baixa, de 0,34%, segundo a Susep. E o QuintoAndar usa parte da taxa de administração para pagar a seguradora. Com essa estratégia ousada, eliminou uma das maiores barreiras para quem quer alugar um imóvel: o fiador ou o alto custo de um seguro. Atualmente, 2% dos 13 milhões de imóveis alugados no País adquirem um seguro fiança. A razão disso é custo, estimado em mais de R$ 2 mil. “Conseguimos formular uma proposta mais barata que a da concorrência”, diz Mauricio Guazelli, diretor comercial de capitalização da Cardif.
Mas, assim como o Uber, o QuintoAndar está gerando polêmica. “Existem muitos e complexos detalhes no processo de relacionamento entre o proprietário e o inquilino, que dificilmente serão substituídos por um aplicativo”, diz Marcelo Brognoli diretor-presidente da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário. Um de seus rivais minimiza a estratégia da startup. “O QuintoAndar pode ter a vantagem do seguro fiança, mas tem uma base de dados muito pequena e restrita”, diz Fernanda Sequetto, gerente de marketing do site Imóvel Web, com 1,4 milhão de ofertas de imóveis.