Nas pistas da Fórmula 1, a perícia do piloto é importante. No entanto, sem um carro veloz e equilibrado é difícil assumir a dianteira e, mais complicado ainda, é brigar pelo título da temporada. Por conta disso, as equipes de ponta investem pesado em tecnologia com o objetivo de superar as rivais. Foi o que fez a britânica Red Bull Racing (RBR) a partir de 2008. Resultado: no período 2010-2013 a escuderia deixou de ser uma mera coadjuvante para ganhar, por quatro vezes consecutivas, tanto o título de construtores, quanto o de piloto, com o jovem alemão Sebastian Vettel.

A supremacia fez com que os concorrentes, especialmente as veteranas Williams, Ferrari e Mercedes-Benz, pressionassem por mudanças nas regras. Só que, em vez de equilibrar o jogo ao reduzir o arsenal eletrônico presente nos bólidos, as alterações acabaram derrubando a RBR e favorecendo a Mercedes. Depois de vencer o campeonato do ano passado, os alemães começaram esta temporada repetindo a dobradinha Lewis Hamilton-Nico Rosberg, que deu o tom em 2014. À RBR coube um amargo sexto lugar na prova, obtido por Daniel Ricciardo, que cruzou a linha de chegada uma volta atrás do vencedor.

Foi o bastante para que o diretor da escuderia, Helmut Marko, elevasse o tom de voz. “Não estamos satisfeitos com os regulamentos da F-1, nem com a forma com que a categoria está sendo administrada”, disse à imprensa australiana. “Por isso, estamos cogitando sair do campeonato se a relação custo-benefício não for mais sustentável.” Caso isso aconteça, o “circo da F-1” sofreria uma perda em torno de US$ 300 milhões, referente ao orçamento anual da RBR. O dirigente deixou claro que falava em nome do austríaco Dietrich Mateschitz, dono de uma fortuna de US$ 11 bilhões, de acordo com a Bloomberg, e criador da marca de bebida energética mais famosa do planeta.

Os comandantes da RBR e da Toro Rosso, as duas equipes pertencentes à Red Bull, se dizem enganados pelos gestores da categoria. “Nossa decisão será conhecida ao longo do ano”, afirmou Marko. Bernie Ecclestone, que detém os direitos comerciais da F-1, procurou colocar “panos quentes” na situação. “Eles estão 100% certos”, afirmou à uma emissora de TV. Segundo ele, existe uma cláusula nas regras da categoria que permite a intervenção da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), caso uma equipe assuma vantagem muito grande em relação às demais.

O acordo foi pactuado na época de Max Mosley, que deixou a presidência da FIA em 2008. E foi exatamente a equalização de forças, aliada aos 160 milhões de libras (R$ 425 milhões à época) investidos por Mateschitz que fizeram toda a diferença em favor da Red Bull. No período 2010-2013, a equipe voou baixo, vencendo tanto o título de construtores como o de pilotos. No ano passado, esta honra coube à Mercedes, enquanto a RBR ficou com o terceiro lugar, obtido por Ricciardo que marcou 238 pontos, 146 a menos que os 384 obtidos por Hamilton, o primeiro colocado.

E, ao que tudo indica, a Mercedes poderá repetir a dose neste ano, em virtude da superioridade tecnológica de seus dois carros. E o temor de Mateschitz é ver a arqui-rival se tornar tão imbatível quanto foi sua RBR, no passado recente. Mas os problemas da RBR não se resumem à força da concorrente. Internamente, o clima também anda pesado devido à pouca competitividade dos motores da parceira Renault. Seu segundo piloto, Daniil Kvyat abandonou a primeira corrida do ano, semana passada, ainda na volta de apresentação, devido a problemas mecânicos.