08/12/2016 - 19:10
O Brasil chama cada vez mais atenção do enólogo Michel Friou, que elabora o Almaviva, vinho icônico da joint venture entre a francesa Baron Philippe de Rothschild e a Concha y Toro, no Chile. Para o lançamento da safra 2014, que acontece nesta semana em São Paulo, Rio e Brasília, Friou pediu que fosse escolhido um restaurante brasileiro. O eleito foi o Dalva e Dito, do chef Alex Atala. No menu, ingredientes como purê de mandioquinha, farofa e castanha do Pará testam a combinação com esse vinho, um corte das uvas cabernet sauvignon (68%), carmenère (22%), cabernet franc (8%) e petit verdot (2%).
Cada garrafa do cobiçado Almaviva será vendida por R$ 1.200. Para o francês, a degustação à brasileira é essencial. “Tenho vindo tanto ao Brasil, que gostaria de provar o vinho com a sua comida”, diz Friou. No começo desse ano, o enólogo veio ao país como jurado da Grande Prova de Vinhos do Brasil, promovida pelo Instituto do Brasileiro do Vinho (Ibravin), em parceria com a revista Baco. Na ocasião, degustou às cegas (sem saber que rótulo corresponde a que vinho) espumantes e tintos com preço acima de R$ 100. Ele se recorda do Sesmarias, tinto elaborado pela Miolo na Campanha Gaúcha, como exemplo de bom vinho brasileiro – ele também elogia alguns espumantes, com os da Cave Geisse.
Para a safra 2014, Friou tem recebido elogios. Lançado em setembro na Europa e na Ásia, o Almaviva obteve 97 pontos do crítico norte-americano James Suckling. A DINHEIRO provou o vinho com exclusividade: é um tinto de muita complexidade, com aromas que remetem a frutas, como amoras, cassis, mescladas com especiarias, cedro, cacau. No paladar, os seus taninos são firmes, maduros e macios, e o tinto tem muita persistência. Resumindo: é daqueles vinhos que podem ser provados agora, mas que têm a elegância e a complexidade para envelhecer por muitos anos na garrafa. A safra de 2002, também degustada agora, comprova o poder de envelhecimento desse tinto.
O vinho de 2014, ainda, que é a 19a safra do Almaviva, é também uma homenagem à baronesa Philippine de Rothschild, falecida em agosto daquele ano. Ela foi uma personagem importante na implantação do projeto franco-chileno. A safra de 2014 não foi fácil para o enólogo: as uvas começaram a brotar mais tarde do que o esperado, e com menor rendimento. O calor excessivo de dezembro e janeiro, por sua vez, adiantaram a madurez da fruta e a colheita. Mas as uvas chegaram à vinícola em ótimas condições. O resto, só a arte da vinificação explica.
Para Friou, os altos e baixos do vinhedo são mais fáceis de entender. Amadurecendo nas barricas, a safra 2016 sofre em concentração, pela chuva inesperada que caiu pouco antes da colheita. Difícil para ele é compreender o mercado brasileiro e descobrir quantas garrafas de Almaviva são vendidas por aqui. Explica-se: o vinho segue um sistema particular de venda: metade é comercializado pela VCT, o braço da Concha y Toro no Brasil, e a outra metade, pelos negociantes de Bordeaux, que o repassam para seus mercados, como acontece com os châteaux de Bordeaux. Por enquanto, só lhe dizem apenas que alguns clientes sumiram, mas não se sabe se consequência da retração econômica ou da operação Lava Jato.