A 120 quilômetros de Porto Velho, em Rondônia, à beira do rio Madeira, a construtora paulista Camargo Corrêa constrói a Usina Hidrelétrica de Jirau. Bem perto dalí, está localizado outro empreendimento de grande magnitude: a Usina Santo Antônio, erguida pela rival baiana Odebrecht. Próximo a Altamira, no Pará, a mineira Andrade Gutierrez está envolvida com a polêmica Usina de Belo Monte, à beira do rio Xingu. Além de serem projetos de geração de energia hidrelétrica, tocados pelo trio de ferro da construção pesada nacional, os três empreendimentos têm algo mais em comum: todos são financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

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Luciano Coutinho, do BNDES: sob seu comando, o banco investiu R$ 56,1 bilhões
em grandes obras no Brasil em 2011.

Nos últimos três anos, por qualquer ângulo que se olhe sempre será encontrada uma digital do banco de fomento nacional como financiador dos grandes projetos de infraestrutura. É ele que está por trás das principais obras em andamento no País, dos estádios da Copa do Mundo aos projetos de geração de energia eólica. Na privatização dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília, na segunda-feira 6, os consórcios vencedores não têm dúvida sobre em qual porta bater em busca de recursos: vão atrás do dinheiro do BNDES. O banco já tinha divulgado, antes do leilão, que financiaria até 80% dos investimentos que terão de ser feitos para melhorar e ampliar a capacidade dos aeroportos. 

“A garantia de financiamento deu uma tranquilidade para quem estava fazendo o lance e elevou os ganhos do governo com a outorga”, diz o economista Julio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). “O bom é que temos o BNDES. O ruim é que só temos o BNDES.” O dinheiro investido nas principais obras de infraestrutura do País sinaliza uma nova política do banco de fomento brasileiro, presidido pelo economista e ex-professor da Unicamp Luciano Coutinho. Na segunda metade dos anos 2000, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o BNDES foi o principal patrocinador de grandes e polêmicas fusões de empresas brasileiras. Foi o que se convencionou chamar de “política de campeões nacionais”. 

 

Sob essa estratégia, a instituição apoiou a criação da BR Foods, união da Perdigão com a Sadia, a Oi (Brasil Telecom e Telemar) e a compra da Aracruz pela VCP, dando origem à Fibria. Investiu pesado também na expansão internacional dos frigoríficos JBS, da família Batista, e do Marfrig, do empresário Marcos Molina. Criado em 1952 pelo economista e ex-ministro Roberto Campos, no governo do presidente Getúlio Vargas, o BNDES surgiu para dar apoio à industrialização e planejar o desenvolvimento de longo prazo. Na década de 1970, durante o regime militar, o banco era regido pela política da “substituição das importações”, com investimentos em áreas-chave como petroquímica, defensivos agrícolas e bens de capital. 

 

Nos anos 1980, a instituição se transformou em um hospital para socorrer empresas em dificuldades financeiras, que tinha entre seus pacientes nomes estrelados como Gradiente e Villares, entre outros. Nessa época, ganhou o apelido pouco elogioso de “Recreio dos Bandeirantes”, local onde os industriais paulistas obtinham dinheiro com facilidade para projetos de viabilidade econômica duvidosa. A partir de 1990, o banco articulou as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, participando inclusive dos consórcios compradores de empresas. O aumento da participação do banco na infraestrutura é uma determinação da presidenta Dilma Rousseff. 


Como os projetos têm longo prazo de maturação e retorno – até 20 anos no caso de usinas hidrelétricas –, os bancos privados ainda se interessam pouco em financiar o setor. A mudança já foi sentida no ano passado, quando os desembolsos para a indústria caíram 19% e o volume alocado para a infraestrutura aumentou 7%. A fatia da infraestrutura cresceu para 40% do total, chegando a um volume de R$ 56,1 bilhões. Em 2012, o setor de infraestrutura deve abocanhar uma proporção ainda maior do orçamento do BNDES. Somente nos setores de energia e transportes, os investimentos devem crescer 25%, para R$ 23,4 bilhões. No ano passado, 155 projetos receberam R$ 18,7 bilhões.

 

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