Você conhece a Huawei? Em caso negativo, não se preocupe: se você não trabalha na área de engenharia de uma empresa de telefonia provavelmente nunca ouviu falar dessa companhia chinesa, que apesar de desconhecida pelo grande público tem cadeira cativa no seleto grupo das 500 maiores do mundo, com um faturamento global de US$ 46,5 bilhões em 2014 – só a Petrobras, cuja receita é três vezes maior, a JBS, que é do mesmo porte, se equiparam a ela no Brasil. Cerca de dois terços do seu faturamento vem da venda de equipamentos de infraestrutura de telecomunicações para as operadoras, seu único negócio no mercado brasileiro.

Mas os dias de confinamento e de anonimato estão contados. A Huawei é também uma das maiores fabricantes de smartphones do mundo. Globalmente, está atrás apenas da americana Apple e da coreana Samsung. E quer exibir sua marca por aqui. A partir do segundo semestre deste ano, a Huawei fará o seu segundo desembarque no Brasil para tentar chegar aos corações e mentes dos consumidores. “Vamos começar a produzir smartphones no Brasil neste ano”, diz o executivo chinês Jason Zhao, que há dois anos está à frente da subsidiária local, em um inglês impecável – em sua missão anterior Zhao era executivo da operação dos Estados Unidos.

Não é a primeira vez que a Huawei busca conquistar uma fatia no concorrido mercado de celulares brasileiro. Na primeira tentativa, em 2013, a chinesa fracassou e encerrou a produção dos modelos Ascend G510, Y340 e Y330, sem grandes explicações. Desde então, passou a importar seus modelos. Mas, com essa estratégia, conquistou uma participação irrisória. A Huawei acredita, no entanto, que agora tudo deve ser diferente. O mercado brasileiro continua aquecido. No ano passado, foram vendidos 54,5 milhões de smartphones no Brasil, uma média de 104 aparelhos por minuto, de acordo com a consultoria americana IDC. Trata-se de uma alta de 55% em relação a 2013.

A projeção para 2015 é de crescimento de 16% nas vendas, apesar do dólar alto e da conjuntura econômica. “Acredito que somos a marca chinesa com mais possibilidade de vingar por aqui”, diz Zhao. “Nossa marca é forte fora da China e vamos importar essa credibilidade.” No momento, a fabricante chinesa negocia com varejistas e operadoras para vender seus smartphones no País. Os primeiros modelos a serem fabricados serão os aparelhos Ascend P7 e o Mate, que rodam o sistema operacional Android, do Google, e tem preço na faixa dos R$ 1 mil. Em 2016, o plano é nacionalizar toda sua linha, ampliando a competição com as líderes do mercado.

A produção será terceirizada e os parceiros estão em fase de definição. Zhao não informou o montante dos investimentos. “Não vejo nenhuma razão para que os fabricantes chineses não expandam suas vendas no Brasil”, afirma William Lutman, analista da consultoria americana de tecnologia Gartner. A chegada da Huawei acontece na esteira do bom momento vivido pelas fabricantes chinesas de smartphones e traz para o palco local a briga que elas protagonizam em seu país de origem. A marca Motorola, que agora pertence a Lenovo, tem uma larga vantagem nessa disputa particular.

Comandada globalmente pelo americano Rick Osterloh, a Motorola ocupa a segunda colocação em vendas no Brasil, atrás apenas da coreana Samsung. A Xiaomi, sensação do mercado chinês, está prestes a iniciar sua operação sob a batuta do brasileiro Hugo Barra, que comanda sua expansão global. Na China, ela desbancou a Samsung da liderança, com seus modelos estilosos e baratos. A Alcatel, por sua vez, que pertence a TCL, está avançando rapidamente no Brasil e na América Latina. “Nos últimos dois anos, a Alcatel foi a empresa que teve o crescimento mais robusto na região”, diz Lutman. Zhao, da Huawei, acredita que a competição entre os guerreiros chineses no Brasil será dura. “Existem muitas semelhanças entre Brasil e China”, afirma ele. “Mas a realidade do mercado aqui é outra.”