Mais que um nome de peso no mercado digital brasileiro, Alexandre Hohagen, 48 anos, é um exemplo de executivo cuja reputação extrapolou as fronteiras do País. Entre outros feitos, ele estruturou as operações do Google e do Facebook na América Latina. Nessa trilha, conciliar a rotina profissional com o tempo para a família rendeu boas histórias. Para manter sua conexão em casa, Hohagen se tornou, por exemplo, o DJ das festas da filha mais velha.

Em julho de 2015, ele voltou a surpreender ao anunciar sua saída da rede social de Mark Zuckerberg para se dedicar a outros projetos, com maior equilíbrio entre a carreira e a vida pessoal. E o primeiro fruto desse novo ritmo é a criação de uma holding de publicidade e tecnologia, com foco na América Latina e no mercado hispânico dos Estados Unidos. Hohagen não está sozinho na empreitada. Ao seu lado está Pedro Cabral, 57 anos, outro ícone brasileiro do setor.

Fundador da Agência Click, uma das pioneiras da publicidade online no País, Cabral ocupou posições globais de destaque após a compra da empresa pelo grupo britânico Isobar, em 2007, por US$ 31 milhões. Em uma escolha semelhante a do parceiro, ele deixou o posto de chairman do Isobar, em dezembro do ano passado. Curiosamente, a trajetória em comum desses “veteranos” da internet não foi o ponto de partida para a nova operação, ainda sem nome.

A ideia surgiu durante uma corrida matinal, em Miami, há cerca de um ano. “Havia um respeito mútuo, mas não tínhamos muita proximidade”, diz Hohagen. “O que nos conectou foram as corridas e as pedaladas”, afirma o empresário, que mora na cidade americana desde 2013. “Temos perfis complementares”, diz o ex-triatleta Cabral, que também possui um imóvel na vizinhança, onde, entre idas e vindas, passa cerca de quatro meses no ano. A inspiração para o projeto ganhar fôlego veio da crescente demanda pela integração do mundo digital à publicidade tradicional.

No Brasil, a publicidade online movimentou R$ 9,5 bilhões em 2015, segundo o Internet Advertising Bureau (veja quadro ao lado). A vertente representa 8% do bolo publicitário local. “Há uma fusão inevitável da mídia tradicional com os meios digitais”, diz Osbaldo Franco, analista da eMarketer para a América Latina. “E o principal motor desse salto é a publicidade móvel.” Estimado em 56 milhões de pessoas, o mercado latino dos Estados Unidos também tem boas perspectivas.

A pesquisa online na compra de produtos é um recurso usado por 54% da população hispânica do país, contra 46% da média geral dos americanos, segundo pesquisa do Google e da Ipsos. De olho nesses números, Hohagen e Cabral compraram, em março, a Nobox, agência sediada em Miami. Os termos do acordo não foram revelados. Mas seguem o modelo que será usado em outras aquisições, com a compra de participações majoritárias em companhias especializadas em segmentos da publicidade online. O plano é adquirir até dez operações, que tenham sinergias.

Na Nobox, mais conhecida por ações em redes sociais, o foco é oferecer novos formatos de campanhas aos clientes da agência, que atende marcas como Netflix e Volkswagen. Ao mesmo tempo, a Nobox poderá compartilhar suas tecnologias com outras empresas da holding. Um desses recursos é o Hyper, que mede a atividade de posts em redes sociais dentro de um limite geográfico, como um estádio de futebol.

Hohagen e Cabral estão buscando parcerias com fundos de investimento americanos e brasileiros para tocar o projeto. Mas o papel da dupla não estará restrito à injeção de recursos nas empresas adquiridas. “Queremos companhias que estejam dispostas a ter os dois cabelos brancos ajudando a molecada no dia a dia”, diz Hohagen. “A experiência de ambos vai permitir um avanço amplo na integração das mídias online e off-line”, diz Diego Oliveira, professor de publicidade da ESPM.

Não há prazo as aquisições. “Venho de empresas que vão de um a 100 funcionários em três meses”, afirma Hohagen. “Tenho que mostrar para ele que não temos bilhões como o Google ou o Facebook. Um passo de cada vez”, diz, bem-humorado, Cabral. Brincadeiras à parte, a dupla não se arrepende de ter deixado seus antigos cargos. “A realidade de executivo não é o meu perfil”, afirma Cabral. “Muitos acham que é só glamour quando se está à frente de grandes empresas”, diz Hohagen. “Nunca estive tão feliz. Ter controle do que faço é extraordinário.”