Os sobrenomes Hicks e Muse são, para a maioria dos brasileiros, ilustres desconhecidos. Mas os torcedores do Corinthians e do Cruzeiro devem ainda se lembrar da dupla. Afinal, os americanos Thomas Hicks e John Muse, ex-sócios na Hicks, Muse, Tate & Furst (HMTF), investiram milhões de dólares nos dois times entre 1999 e 2002. A experiência, aparentemente, não foi das melhores para os empresários. Tanto que ambos deixaram de apostar o capital de seus fundos de investimento no Brasil desde então. Após quase dez anos, os investidores finalmente voltaram ao País. Mas, em vez de colocarem seus dólares em empreendimentos locais, Hicks e Muse desembarcaram no Brasil, em meados de dezembro, em busca de parceiros para a construção de um empreendimento imobiliário na Patagônia argentina. 

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Parceria antiga: John Muse (à esquerda) e Thomas Hicks são sócios nos negócios há 20 anos

Os investidores Hicks e Muse, atualmente, não são mais sócios. Ambos, no entanto, ainda mantêm diversas parcerias em investimentos pessoais e profissionais. Muse ainda está à frente da HMTF. Hicks comanda uma nova companhia, a Hicks Holding LLP. A mais recente parceria da dupla é o empreendimento El Desafio Mountain Resort, na Argentina. Trata-se de um condomínio de 1.040 hectares com campo de golfe e de polo, que conta com 650 lotes de quatro mil metros quadrados cada um. Eles serão vendidos com valores de US$ 100 mil a US$ 150 mil. O custo total do projeto é de US$ 60 milhões (veja gráfico). A previsão é de faturar cerca de US$ 81,2 milhões com a venda dos terrenos nos próximos cinco anos.  

Durante os dois dias em que estiveram no Brasil, Hicks e Muse mal tiveram tempo de sair do luxuoso Hotel Emiliano, em São Paulo, onde ficaram hospedados. Lá, em uma pomposa sala de reunião de aproximadamente 50 metros quadrados, receberam 15 possíveis investidores, incluindo pessoas físicas, empresas e fundos de investimentos. “Acreditamos que brasileiros, argentinos e americanos serão os principais compradores do El Desafio”, afirmou Hicks à DINHEIRO. 

 

Como contumazes farejadores de oportunidades, a visita não serviu apenas para que captassem recursos para o El Desafio. Os investidores também sondaram algumas empresas e setores que julgam rentáveis no País. “Vejo o Brasil como um dos melhores mercados para se investir, atualmente”, diz Muse. “Fora dos EUA é para onde mais tenho canalizado minhas finanças pessoais.” Muse não revela quanto nem em quais empresas está apostando, apenas que todas estão ligadas ao setor de consumo, que hoje foca suas operações na chamada nova classe C. 

 

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A nova investida da dupla: o empreendimento El Desafio Mountain Resorts

é formado por 650 lotes que custam entre US$ 100 mil e US$ 150 mil

 

O parceiro Hicks, na América do Sul,  concentra suas operações na Argentina, onde opera uma subsidiária da Hicks Holding. “Me arrependo de ter colocado todas as minhas fichas no mercado argentino”, afirma. “Se tivesse olhado com mais carinho para o Brasil, estaria com resultados muito melhores.” O setor que mais chama a atenção de Hicks no País é o de petróleo. Assim como Muse, ele também não revela se negocia investimentos com empresas locais. Durante a entrevista, Hicks e Muse falaram abertamente sobre seus negócios. O clima mudou quando foram questionados sobre o futebol brasileiro e se tinham planos de voltar a investir na modalidade. 

 

“Eles não falam mais sobre isso”, avisou um assessor de Hicks, antes de qualquer resposta dos americanos. O apoio ao Corinthians e ao Cruzeiro começou em 1999. Por contrato, deveria durar até 2009. Além de arcar com as despesas dos clubes, a HMTF ainda construiria o tão sonhado estádio corintiano. Em troca, o fundo deteria uma participação no passe de todos os jogadores e ainda os direitos de imagem dos dois clubes. Divergências com a administração dos clubes,  aliadas ao auge da crise na Argentina, onde a HMTF possuía muitos investimentos, fizeram com que a empresa tirasse o seu time de campo em 2002. Diferentemente de Hicks, que ainda é dono do time de beisebol Texas Rangers e do de hóquei Dallas Stars, Muse nunca mais investiu em esportes. 

 

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