14/03/2012 - 21:00
Era um dia como outro qualquer no escritório paulista da Geo Eventos, promotora de espetáculos e shows controlada pelas Organizações Globo, quando um visitante americano entrou no local e tomou um susto ao notar uma pessoa rabiscando um papel, sentada em uma cadeira utilizada pelos estagiários. “Aquele é o Brian Becker?”, perguntou. A estupefação tinha razão de ser: Becker, que até então passara despercebido pelos funcionários brasileiros da empresa, é ninguém menos do que um dos mais conhecidos nomes do show business dos Estados Unidos.
Em cores e luzes: drag queens divulgam, na Broadway, a peça Priscilla,
a rainha do deserto, que chega agora ao Brasil.
Aos 54 anos de idade, dono da Base Entertainment e parceiro da Geo Eventos, ele é integrante da família que criou o modelo de empresa que hoje domina o mercado global de entretenimento ao vivo, ao combinar diferentes atividades na mesma organização, como teatro, shows musicais e eventos esportivos. Para entender a sua influência, é só conhecer a história da família Becker, que por mais de três décadas esteve à frente das maiores companhias do segmento. Em 1965, seu pai, Allen Becker, um ex-vendedor de seguros do Texas, fundou a Pace Entertainment para organizar eventos de esportes de motor. Logo estava realizando corridas de motocross e de caminhões monstros no Madison Square Garden, em Nova York.
Céu de estrelas: Becker gerenciou a carreira de Michael Jordan e a turnê da cantora Madonna.
Nas décadas seguintes, já com a participação decisiva do jovem Brian, a Pace reiventou o negócio, promovendo a montagem de musicais e de grandes concertos de rock. Quando a empresa acabou integrada à Clear Channel Entertainment, em 2000, numa transação de US$ 4,4 bilhões, Brian Becker assumiu o posto de CEO da organização compradora. No cargo, foi responsável pelo agenciamento de esportistas, como Michael Jordan, pelas turnês de U2, Madonna e Rolling Stones, e pelo musical The producers, o recordista de prêmios Tony, o Oscar do teatro. Aliado ao grupo Globo, ele pretende escrever seu nome também na história do entretenimento brasileiro.
“Nós tiramos os musicais da Broadway e organizamos turnês por todos os Estados Unidos”, afirma Becker. “Agora vamos fazer algo similar ao chegar ao Brasil.” A aventura começa com a estreia, no dia 17 de março, de Priscilla, a rainha do deserto, musical baseado no filme australiano homônimo. Com investimento de R$ 6 milhões, compartilhado entre a Base Entertainment, de Becker, e a Geo Eventos, a produção será uma versão do mesmo porte da peça original, que estreou na Broadway há apenas um ano. Isso significa um elenco de 27 pessoas e a presença no palco de um ônibus, avaliado em US$ 1,5 milhão, com 30 mil pontos de iluminação LED.
Brian Becker: o dono da Base Entertainment usará no Brasil
a sua experiência em turnês bem-sucedidas de musicais da Broadway.
A parceria entre as duas empresas dará origem a uma joint venture, que poderá ser batizada de Geo Base. Por meio dela, os sócios ainda vão administrar o Teatro Geo, no edifício Tomie Ohtake, em São Paulo, com 600 lugares e que começa a operar no dia 29 de março. “Não estamos interessados em investir em imóveis, mas deter um teatro próprio é importante, porque há um gargalo para a produção de espetáculos no Brasil causado pela falta de locais adequados”, diz Leonardo Ganem, CEO da Geo Eventos. Em seu primeiro ano de atuação, a Geo atingiu faturamento de R$ 80 milhões, com a expectativa de dobrar o resultado em 2012.
Já a Base, com seis anos de existência, alcançou US$ 100 milhões, apostando em levar musicais para Las Vegas e mais recentemente para Cingapura. O interesse da nova empresa de Becker pelo Brasil é compreensível. Segundo Ganem, os musicais e grandes shows movimentam no País em torno de R$ 3,5 bilhões, mas é muito difícil um estrangeiro conseguir acesso a esse mercado sem contar com um intermediário local. “Acordos entre empresas brasileiras sólidas e promotores globais são o futuro”, diz Gary Bongiovanni, presidente da empresa de pesquisas americana Pollstar. “Os artistas internacionais estão acostumados a negociar com as empresas de origem americana, e a companhia brasileira conhece o território.”