Durante muito tempo, a Inglaterra dominou o comércio mundial e foi o principal parceiro do Brasil. No século XX, as relações esfriaram porque o Reino Unido virou as costas para o Brasil, avalia o embaixador do Reino Unido no País, Alex Ellis. “Mas isso está mudando rapidamente”, afirma. “O fluxo comercial entre os dois países tem aumentado consistentemente.”

Quais parcerias entre Brasil e Reino Unido são relevantes?
Ficamos de costas para o Brasil durante o século XX. E isso está mudando rapidamente. Atualmente, o Reino Unido já é o quarto maior investidor no País. Temos parcerias em diversos setores, especialmente no petróleo. Também destacaria as trocas de informações sobre educação e pesquisa. O Reino Unido é o segundo destino mais procurado pelos brasileiros que participam do programa Ciências sem Fronteiras. Lançamos o fundo Newton, que dá subsídios para ciência e inovação. Fizemos uma parceria relacionada à segurança de grandes eventos. Também compartilhamos informações sobre a segurança de regiões estratégicas para ambos os países, como Síria e Iraque.

O que acha de o Brasil ter assento permanente no Conselho de Segurança?
Apoiamos a entrada do Brasil. O Conselho tem de ser um reflexo do cenário atual. O Brasil deu passos importantes em uma série de áreas. Falo muito com o Itamaraty sobre o Irã, a Síria… E sobre valores.

Quais valores?
Estive lá recentemente para conversar sobre direitos humanos, direito dos homossexuais. Em setembro, vamos falar sobre os direitos das minorias na ONU. Estamos muito alinhados.

As relações econômicas vão aumentar?
O fluxo comercial entre Brasil e Reino Unido tem aumentado consistentemente. Nos últimos quatro anos, houve um salto de 70%. A base é pequena, mas mostra interesse. Empresas procuram o Reino Unido como plataforma de exportação para a Europa e o Oriente Médio.

Quais empresas fincaram bandeira por lá?
A Stefanini, a Marfrig e alguns bancos. André Esteves me falou sobre sua intenção de aumentar a presença do BTG Pactual.

Por que o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul ainda não foi aprovado?
Houve uma tentativa séria há mais ou menos uma década. A parte mais difícil é a liberalização agrícola, pela União Europeia. O Reino Unido é bastante liberal, queremos taxas mais baixas, livre comércio. O Brasil tem forte competitividade nessa área. Além disso, houve uma mudança importante na natureza do Mercosul. É necessário haver uma posição comum no que se refere ao comércio.

Outras regiões conseguiram avançar nos acordos…
A União Europeia dedicou mais tempo a outras áreas do mundo. Fechou acordo com a Coreia, está tentando firmar outros com o Japão e com a Índia. Também fez parceria com os Estados Unidos. É importante que se chegue ao acordo com o Mercosul.

Como o sr. vê a corrida eleitoral no Brasil?
A morte de Eduardo Campos foi uma tragédia. Há poucas pessoas no mundo que são presidenciáveis. Reabrimos nosso consulado no Recife há três ou quatro anos e ele nos ajudou muito.

O que espera das eleições?
Para um observador de fora, tem sido uma corrida fascinante. Trabalharemos juntos, independentemente de quem será o governo. As relações entre países se dão, no fundo, entre pessoas, empresas, universidades… Meu país aposta muito no Brasil. Entre 2007 e 2010, houve dez visitas de ministros britânicos. Só no ano passado, foram três. Isso vai continuar.

O Reino Unido está trabalhando com instituições brasileiras para assegurar o direito de autonomia dos cidadãos das Ilhas Falkland (Malvinas, para os argentinos). O que isso significa?
Nosso objetivo é mostrar a verdade sobre as Falkland. Falamos com empresas brasileiras, porque existe óleo e gás lá e seria interessante ter esse intercâmbio. Levamos deputados, senadores e jornalistas brasileiros às ilhas para mostrar quem são, como vivem.