15/01/2016 - 20:00
Prestes a completar um ano na presidência da Petrobras, Aldemir Bendine terá desafios ainda maiores pela frente. Um deles é executar um ambicioso plano de desinvestimentos, que prevê a venda de US$ 14,4 bilhões em ativos neste ano. Uma das jóias à disposição é a fatia de 49% que a estatal tem na Braskem, controlada pela Odebrecht. Desde abril do ano passado, quando surgiram os primeiros rumores de que a Petrobras estaria disposta a vender a sua participação na petroquímica, o valor de mercado praticamente dobrou, o que poderia render R$ 5,3 bilhões ao caixa da estatal.
Na quinta-feira 14, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a direção da Petrobras afirmou, sem mencionar a Braskem, que a carteira de desinvestimentos é “dinâmica” e que “o desenvolvimento das transações dependerá das condições negociais e de mercado”. Os analistas veem com bons olhos o processo de enxugamento da estatal. “Encolher agora para tentar crescer depois”, diz o estrategista da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira, que considera preocupante o elevado endividamento da empresa na casa de
R$ 500 bilhões.
“Cerca de 70% da dívida é em dólar e a moeda americana subiu muito nos últimos meses.” A exemplo das maiores petroleiras do mundo, a Petrobras também vive o drama da queda acentuada no preço do barril do petróleo no mercado internacional ao patamar de US 30, que pode inviabilizar a extração do pré-sal (leia reportagem aqui). Mas, no curto prazo, a turbulência externa se tornou rentável para o caixa da empresa, que está vendendo gasolina e diesel nos postos de combustível a um preço bem maior do que o praticado no mercado internacional.
As consultorias calculam que o lucro chegue a 30%, o que vem amenizando as perdas de cerca de R$ 50 bilhões acumuladas nos últimos quatro anos, quando o governo congelou o preço da gasolina para controlar a inflação, num momento em que o barril de petróleo estava em torno de US$ 100. Com um futuro desafiador e um caixa apertado, a Petrobras revisou, na terça-feira 12, o plano de negócios para o quadriênio 2015-2019. No total, foram cortados R$ 32 bilhões em investimentos, de um total de US$ 130,3 bilhões, embora o montante previsto especificamente para 2016 tenha crescido US$ 1 bilhão.
Sem o selo de grau de investimento, retirado pelas agências de classificação de risco no ano passado, os investidores passaram a vender as ações da Petrobras, que caíram, na semana passada, ao menor patamar desde 2003. Com a alegação de que “as condições de mercado estão desfavoráveis”, a companhia anunciou, na quinta-feira 14, o cancelamento do plano de emitir R$ 3 bilhões em debêntures. Não está descartada uma capitalização pelo seu acionista majoritário, a União.