Fã confesso de futebol e defensor inveterado da realização da Copa do Mundo no Brasil, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trocou o jogo decisivo entre Itália e Uruguai, em Natal, na terça-feira 24, por uma palestra gratuita a empresários da Eurocâmaras, em São Paulo. Falou durante uma hora e dez minutos para cerca de 200 executivos e representantes de grandes companhias de Portugal, Itália, França, Alemanha e Espanha, entre outros países. A proximidade com o líder petista, no entanto, não é exclusividade do empresariado paulista.

Incomodado com os resultados tímidos do governo Dilma Rousseff na economia – “o PIB não está crescendo como eu gostaria” –, Lula decidiu ir para a linha de frente e dialogar francamente com o setor produtivo e o mercado financeiro, dentro e fora do Brasil. Foi assim no começo de fevereiro, em encontro com empresários e investidores americanos, em Nova York, e mais recentemente em eventos promovidos pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em São Paulo, e pelo jornal espanhol El País, em Porto Alegre.

Bem-humorado e vestindo uma gravata com as cores do Brasil, Lula chamava a todos os representantes do PIB de “companheiros”, na terça-feira 24. Logo de cara foi avisando aos executivos europeus que ninguém deveria ousar tirar a taça da Fifa do País. Ele também criticou os pessimistas que diziam que a Copa do Mundo seria um fracasso e ressaltou a alegria dos turistas estrangeiros. “Os alemães até elogiaram a cerveja brasileira.” Quebrado o gelo, quando a audiência degustava uma taça de champanhe, o ex-presidente mudou o foco para a economia.

Na palestra, apresentou uma série de indicadores dos últimos 12 anos, ressaltando as transformações sociais pelas quais o País passou desde o período em que ele recebeu a faixa presidencial, em Brasília. Embora seja o padrinho político da presidenta Dilma Rousseff e o garoto-propaganda da sua campanha pela reeleição, Lula evita analisar especificamente o desempenho do governo nos últimos quatro anos. “Geramos 20 milhões de empregos formais em 12 anos”, afirmou Lula. “Qual país conseguiu fazer isso?”

Deixando claro que nunca foi comunista, o ex-presidente da República sabe falar o que o empresariado quer ouvir. Ao destacar o programa de concessões do governo federal, mencionou que o Terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, que acaba de ser inaugurado, só foi construído no prazo de 19 meses graças à iniciativa privada. “Se fosse feito pelo governo, ainda não teria sido lançada a pedra fundamental”, disse o petista. Para quem é contra as desonerações feitas na indústria, Lula já tem a resposta pronta. “Não vou pedir para o pobre não ter carro.”

Na sua palestra, garantiu que não há bolha de crédito no Brasil e que a política de gastos públicos sempre foi responsável. “Tive a coragem de fazer um ajuste fiscal no meu governo e perdi 5% do PT.” Não poupou seus adversários – “não tem bicho mais sabido do que economista da oposição” – e afirmou que “tem muita gente de má-fé com o Brasil”. Na sessão de perguntas e respostas, quando os empresários se preparavam para saborear uma sequência de salada de salmão, medalhão de filé-mignon e tomate recheado com farofa, Lula foi questionado por empresários sobre a dependência do Brasil em relação ao Mercosul.

O ex-presidente defendeu os vizinhos, como sempre, e disse que a China precisa ser enquadrada nas regras da Organização Mundial do Comércio. Ao término do discurso, foi aplaudido de pé pela maioria dos presentes. De uma forma geral, os empresários nutrem simpatia pelo ex-presidente Lula, mas reclamam das decisões da presidenta Dilma Rousseff. As alfinetadas no atual governo, é claro, só são feitas sob a condição do anonimato. Como bem definiu um dos executivos presentes ao evento, “não se critica publicamente quem está na liderança das pesquisas”.