Quem acessa o site da empresa aérea TAM encontra, logo de cara, a seguinte mensagem: “Antecipe sua compra e economize.” A página também convida o cliente a usar suas milhas acumuladas no programa de fidelidade Multiplus, da companhia, adquirindo passagens por até sete mil pontos, desde que a compra seja feita antecipadamente. Em junho, a TAM alterou as regras do seu programa de milhagem para permitir a emissão de passagens com até 360 dias de antecedência. Foram criadas também três categorias de bilhetes: “promo”, o mais barato; “clássico”, preço regular; e “irrestrito”, tarifa máxima usada para compras de última hora. 

 

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Imagem arranhada: a volúpia de querer aproveitar ao máximo as oportunidades

geradas pela Copa do Mundo pode prejudicar a TAM  

 

Esse mesmo consumidor, no entanto, caso tente reservar um voo para daqui a um ano, verá que, na prática, não é tão simples usufruir desse benefício. Desde o primeiro dia de entrada em vigor do novo sistema de emissão de bilhetes com resgate de milhas, a reportagem da DINHEIRO fez simulações de compras de passagens, usando pontos do programa de fidelidade, para oito destinos internacionais, durante o período de realização da Copa do Mundo de 2014 (meses de junho e julho do próximo ano). Em todas elas, apesar da antecedência, a única faixa disponível era a de preço “irrestrito”. Assim, por exemplo, o valor de uma passagem entre São Paulo e Miami nesse período não sai por menos de 115 mil pontos por trecho. 

 

Para pagamento em dinheiro, mais de R$ 4 mil (veja quadro ao final da reportagem). Se o destino é uma das principais cidades europeias, fica em 130 mil pontos por trecho. Nesse caso, planejar antecipar o pagamento da passagem só é negócio para a companhia. No quebra-cabeça em que se transformou o programa de fidelidades da TAM, a peça da Copa do Mundo, que começa no dia 12 de junho do próximo ano, está difícil de encaixar. Segundo nota da companhia, é a alta demanda prevista para esse período o que explica a utilização de uma única categoria de tarifas e, consequentemente, a suspensão da política recém-lançada de beneficiar aqueles que se antecipam nas compras. 

 

Mas a política de preços da TAM não está baseada apenas no aquecimento da demanda provocado pela sazonalidade natural do turismo. Afinal, a mesma passagem para Miami, se for adquirida em dezembro, mês de férias escolares e de alta temporada, sairá por pouco mais de R$ 960, ou 35 mil pontos, cada trecho, na categoria “clássica”. “É natural que as empresas aumentem os preços em virtude da expectativa gerada pelos eventos esportivos”, afirma Maurício Galhardo, diretor da consultoria mineira Praxis Business. “Financeiramente, pode compensar.” O que a TAM parece não estar considerando é o risco de ter sua imagem arranhada devido à volúpia de querer aproveitar ao máximo as oportunidades geradas pela Copa. 

 

“O consumidor que está acostumado a pagar um valor mais baixo pode se sentir prejudicado”, afirma Galhardo. Outros componentes tornam a estratégia ainda mais questionável. Um deles é a concorrência. Clientes fiéis de companhias como a Air France, concorrente da TAM nas linhas que ligam Brasil e Europa, conseguem bilhetes por 40 mil milhas por trecho no período da Copa. Ou seja, para cada passagem TAM podem adquirir três na rival. Além disso, a companhia costuma fazer propaganda sobre sua política de oferecer descontos a quem compra passagens antecipadamente. “Caso alguma promoção possua restrições, a empresa precisa avisar o consumidor”, afirma Marcio Marcucci, diretor de fiscalização do Procon-SP. 


“Já recebemos reclamações de pessoas que se sentiram prejudicadas.” Há, ainda, a possibilidade de a demanda esperada não se confirmar. Os resultados do turismo na Copa das Confederações, no mês passado, mostram que essa hipótese não é improvável. Segundo pesquisa encomendada pelo Serviço de Proteção ao Crédito, 85% das pessoas que assistiram aos jogos nos estádios moravam no mesmo Estado onde aconteceu a partida. Apenas 3% dos ingressos foram vendidos para estrangeiros, de acordo com a Fifa. Nesse caso, a companhia pode se ver obrigada a baixar os preços às vésperas do evento. Quem comprar na alta certamente não ficará satisfeito.

 

As distorções de preços no período da Copa do Mundo preocupam até o governo. Em nota enviada à DINHEIRO na quinta-feira 11, o Ministério do Turismo afirmou que vem acompanhando o preço das passagens aéreas e estuda alternativas que possam beneficiar os turistas. No caso das tarifas de hotéis nas cidades-sede do evento, já foram tomadas medidas efetivas. A Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor e o Cade foram acionados para verificar possíveis abusos. Pesquisa feita pela Embratur mostra um aumento de até 376% nos preços das diárias. As tarifas são duas vezes superiores às cobradas em Johannesburgo, na África do Sul, e Berlim, na Alemanha, palcos das duas edições do maior campeonato mundial de futebol, em 2010 e 2006. No jogo da ganância, o Brasil já é campeão.

 

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